Outras universidades do Estado, como a UFRJ e a Unirio, já reiniciaram a prática médica. Enquanto isso, os acadêmicos da UFF temem pela qualidade de sua formação profissional. “Nem no tempo do Dr Tulp, retratado por Rembrandt em 1632, as lições de anatomia eram esquecidas”, diz uma aluna da Faculdade de Medicina.
Depois de uma intensa mobilização dos alunos através das redes sociais, o reitor da UFF, Antonio Claudio, prometeu receber representantes do Diretório Barros Terra nesta terça-feira (05/10), às 20h.
Em carta aberta à comunidade acadêmica os estudantes perguntam que médicos a pandemia irá formar. “A UFF vem usando a Covid-19 como justificativa para o descaso de alguns professores em relação ao ensino dos alunos. Muitos professores não desejam o retorno das aulas presenciais. A falta das práticas prejudica nosso aprendizado e colabora para o sucateamento da educação pública”, dizem representantes do Diretório Acadêmico Barros Terra.
O Hospital Antonio Pedro, que já foi um grande formador de excelentes médicos em Niterói, há cinco anos administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), reduziu o número de leitos, de cirurgias e de exames. Segundo professores da Faculdade de Medicina da UFF, isto está restringindo o ensino universitário em todas as áreas de saúde.
O Huap que já teve 450 leitos, tem hoje menos da metade disponíveis. A Ebserh teria que repor pessoal após um ano da vigência do contrato com a UFF e reabrir os leitos fechados. Hoje o hospital universitário tem em funcionamento 160 leitos, menos do que as 200 vagas informadas à Secretaria Municipal de Saúde de Niterói.
A demora para o retorno do ensino híbrido não atrasa apenas a formatura dos alunos de Medicina. Segundo eles, “causa enormes prejuízos financeiros e acadêmicos, como também torna a prática cada vez mais desconexa da teoria, prejudicando a qualidade da formação profissional”.
A Carta Aberta divulgada pelos estudantes é a seguinte:
“O Diretório Acadêmico Barros Terra vem, por meio desta carta, denunciar o profundo descaso com a educação dos nossos alunos por parte da Universidade Federal Fluminense. Desde o início da pandemia, os ciclos clínico e básico estão tendo aula de forma completamente remota – com exceções do sétimo período, que teve apenas uma disciplina em formato híbrido nesse semestre de 2021. Enquanto representantes estamos des o início do ano negociando um retorno híbrido para todas as disciplinas práticas. Contudo, ontem (03/10), enquanto outras seis permanecerão em regime totalmente remoto – mesmo a situação epidemiológica e vacinal do município de Niterói estando favorável à volta. Esse cenário de torna ainda mais contrastante quando comparado ao de outras Faculdades de Medicina públicas do Estado do Rio de Janeiro que já retomaram com atividades práticas.
Há cerca de oito meses têm-se realizado reuniões entre representantes discentes e Coordenação para organizar o retorno da disciplina Trabalho de Campo Supervisionado III (TCS III), onde é realizada uma das primeiras e mais importantes práticas clínicas da nossa formação. No presente momento, acumulamos cinco turmas precisando repor essa prática ou cursá-la de maneira regular. Durante todo esse processo, o planejamento conjunto visava tentar alocar todas essas turmas no próximo semestre de 2021.2.
Entretanto, apenas no dia 28/09, em última reunião, fomos informados que os docentes da disciplina começariam a ser procurados. Ainda na última sexta-feira (01/10), uma planilha foi liberada pela Coordenação do Curso para todo o corpo discente especificando as disciplinas que cada um teria no próximo semestre letivo, incluindo a referida prática de TCS III. Todavia, às vésperas das inscrições online das disciplinas, foi comunicado aos alunos que apenas uma das cinco turmas retornaria com essa disciplina prática com a justificativa da falta de docentes para ministrar às demais.
Em relação às disciplinas ofertadas pelo Departamento de Morfologia, o impedimento de retorno presencial no semestre 2021.2 foi declarado por condições insalubres do anatômico. Tais condições já eram apontadas pelos professores desde antes do início da pandemia e, devido ao tempo fora de uso, as condições do local teriam se deteriorado ainda mais. O questionamento maior por parte dos alunos é porque essas condições só foram verificadas apenas às vésperas do possível retorno, e não anteriormente. Além disso, questiona-se a grande demora do corpo docente do departamento para mobilizar um retorno viável, sendo que por meio de um ofício do Instituto Biomédico do dia 26/07, foi solicitado a eles um plano de retorno híbrido.
Citamos essas disciplinas para ilustrar que, apesar de estarmos lutando pelas práticas, a Coordenação ainda não emitiu sequer uma previsão de quando o restante das turmas poderá retornar – estamos há mais de um ano em regime remoto e não temos nenhum planejamento oficial por parte da UFF. A demora para o retorno híbrido não atrasa apenas a formatura dos alunos, causando enormes prejuízos financeiros e acadêmicos, como também torna a prática cada vez mais desconexa da teoria, prejudicando a qualidade da nossa formação. As universidades públicas sempre foram sinônimo de excelência acadêmica, e é extremamente decepcionante que pouco ou quase nada tem sido feito em prol do nosso aprendizado durante a pandemia. Além do atraso em relação às práticas, os alunos estão lidando com o completo sucateamento do ensino, dadas as limitações que o ensino remoto impõe, como a dificuldade de acesso por parte de alunos e professores.
Esperamos, enquanto Diretório Acadêmico e em nome do Corpo Discente que sejam tomadas medidas para que as atividades presenciais retornem e que se preze pela boa qualidade do nosso ensino.
Diretório Acadêmico Barros Terra – gestão Rita Lobato”.
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