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Médico niteroiense diz como tratar a dor e melhorar a qualidade de vida

Escrito por Gilson Monteiro às 16:29 do dia 18 de junho de 2025
Sobre: Idade do condor
  • Médico Ricardo Bretas, Niterói
18jun
Ricardo Bretas: “A dor crônica é um desafio crescente, mas tratável com abordagem multimodal, personalizada e interdisciplinar”

Dizem que a vida é feita de fases — e algumas delas chegam com mais histórias do que cabelos brancos. Quando alguém entra na famosa “idade do condor”, não está falando de um pássaro andino, mas de um estado de espírito bem brasileiro: com dor aqui, com dor ali. Joelhos que rangem, costas que reclamam e aquela sensação de que dormir virou um esporte de alto impacto.

Brincadeiras à parte, a dor — especialmente a dor crônica — é uma das grandes queixas da vida adulta e madura. Ela não apenas limita movimentos, mas impacta o sono, o humor e a qualidade de vida. E diante de um mundo cada vez mais acelerado, com mais estresse, menos tempo e uma população que envelhece, tratar a dor se tornou um desafio urgente.

Para compreender melhor esse cenário e discutir caminhos de alívio e recuperação, conversamos com o Dr. Ricardo Alvim Bretas, médico anestesiologista com atuação em tratamento da dor, fundador da Clínica da Dor Dr. Bretas e referência no eixo Rio-Niterói. Formado pela UFF, possui o Título Superior em Anestesiologia conferido pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia (TSA–SBA). É reconhecido como Especialista em Anestesiologia pela Associação Médica Brasileira (AMB). Faz parte também do corpo clínico da UFRJ e chefia o Serviço de Anestesiologia da Interneuro.

Nesta entrevista, o Dr. Bretas fala sobre os principais tipos de dor, os tratamentos disponíveis, o impacto da pandemia nos quadros dolorosos e como o estilo de vida moderno tem influenciado o aumento dos casos. “A dor crônica é um desafio crescente, mas tratável com abordagem multimodal, personalizada e interdisciplinar. O foco não é só eliminar a dor, mas recuperar a qualidade de vida e funcionalidade do paciente”, afirma o especialista.

À medida que a população envelhece, aumentam os casos de doenças musculoesqueléticas, como artrose, hérnias de disco e dores lombares. Em consequência disso a procura para tratamento da dor crônica tem aumentado? Haveria maior conscientização sobre a dor crônica como condição tratável — e não apenas algo “para aguentar”?

BRETAS – Sim, a procura por tratamento de dor crônica tem aumentado progressivamente. O envelhecimento populacional, o aumento da longevidade com comorbidades e a maior conscientização da dor como condição tratável — e não algo “normal da idade” — são fatores-chave. Antigamente, a dor era frequentemente negligenciada ou subtratada. Hoje, é reconhecida como uma doença em si, com vias fisiopatológicas próprias. Campanhas de conscientização, maior acesso a especialistas e o desenvolvimento de novas tecnologias (como neuromodulação e bloqueios guiados por imagem) vêm fortalecendo essa mudança de paradigma.

Qual o impacto da pandemia de Covid-19 no agravamento de quadros de dor já existentes? O isolamento e a redução de atividades físicas teriam piorado a saúde musculoesquelética das pessoas?

BRETAS – A pandemia teve efeitos significativos sobre quadros dolorosos. Quadros já existentes pioraram. O confinamento, a interrupção de fisioterapia, a falta de acompanhamento médico e a automedicação inadequada agravaram dores crônicas.

A redução da atividade física leva a enfraquecimento muscular, perda de flexibilidade e sobrecarga articular. O estresse e ansiedade são fatores psicoemocionais diretamente ligados à amplificação da dor, principalmente na fibromialgia e cefaleias tensionais.

O sedentarismo, o estresse crônico e a má qualidade do sono contribuiriam para o surgimento e agravamento de dores, especialmente nas costas, ombros e cabeça?

BRETAS – O sedentarismo favoreceu aumento de peso e descondicionamento físico, gerando mais sobrecarga na coluna lombar e articulações periféricas.

Há exames que podem ajudar a identificar com mais precisão a origem do problema?

BRETAS: Para identificar a origem da dor há exames como o de Ressonância magnética (RM), essencial para avaliar hérnias de disco, artroses facetárias, compressões nervosas, edema ósseo e SDRC.  Já a Ultrassonografia musculoesquelética faz a avaliação dinâmica de tendões, bursas e músculos; é útil para guiar infiltrações.

Para investigar compressões nervosas e radiculopatias temos a Eletroneuromiografia (ENMG). Por sua vez, a Cintilografia óssea / tripla fase: Indica inflamação articular ou distrofias (ex: SDRC). E a Densitometria óssea com composição corporal avalia risco de fraturas e perda muscular (sarcopenia).

Sobre os tratamentos disponíveis, quais são as opções para os pacientes? Há alternativas não medicamentosas que podem ajudar, como fisioterapia, acupuntura, exercícios físicos ou mudanças na alimentação?

BRETAS – Tratamentos disponíveis, medicamentosos e não medicamentosos são os seguintes:  Farmacológicos – analgésicos (dipirona, paracetamol, opioides); anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina);  antidepressivos (amitriptilina, duloxetina); anti-inflamatórios como corticoides (uso pontual); Fitoterápicos e canabinoides (em casos selecionados).

Já os tratamentos intervencionistas são os bloqueios anestésicos e neurolíticos; a Radiofrequência; Implantes (eletrodo medular, bomba de morfina); e a Toxina botulínica (casos específicos).

Como terapia não medicamentosa temos a Fisioterapia (reeducação postural, fortalecimento, terapia manual); a Acupuntura; Exercícios físicos supervisionados; a Psicoterapia/cognitivo-comportamental e a Reeducação alimentar (nutrição anti-inflamatória).

Qual é a taxa de sucesso dos tratamentos que o senhor recomenda? Existem efeitos colaterais ou riscos associados a esses procedimentos? O tratamento é definitivo ou será necessário repetir com o tempo?

BRETAS – A taxa de sucesso depende da etiologia da dor e da abordagem multimodal. Em geral, bloqueios anestésicos e radiofrequência proporcionam 70–90% de alívio da dor em casos bem indicados. O exercício supervisionado mais reeducação postural oferece melhora sustentada em até 80% dos pacientes com lombalgia crônica.

Por sua vez, os fármacos isolados resultam em alívio moderado (40–60%) e com maior risco de efeitos colaterais. Com as infiltrações pode haver risco de infecção, sangramento ou dor local (geralmente transitórios). Com os medicamentos podem ocorrer sedação, ganho de peso, disfunção cognitiva, constipação (especialmente com opioides).  Os implantes são mais invasivos, mas seguros em centros especializados.

Na maioria dos casos, o tratamento não é “curativo”, mas sim de controle crônico com manutenção funcional. Repetições periódicas de alguns procedimentos são necessárias, sobretudo em quadros degenerativos ou neuropáticos refratários.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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