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Morte de comerciante atemoriza moradores da tranquila Ponta D’Areia

Escrito por Gilson Monteiro às 14:01 do dia 4 de setembro de 2019
Sobre: Violência importada
04set

Costumo dizer que desembarquei na Ponta D’Areia, num Ita do Norte vindo de Recife, com meus pais e meus avós. Tinha dois anos de idade quando fui morar na Vila Pereira Carneiro construída pelo conde que lhe empresta o nome. O casario havia sido erguido para moradia dos empregados do Estaleiro Mauá, que o Conde Pereira Carneiro havia comprado do empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. O conde fez condessa a niteroiense Maurina Dunches, com quem se casou e passou a morar num castelo que ali permanece erguido no alto do morro que tem o estaleiro em sua fralda. Também foi proprietário do Jornal do Brasil, de saudosa memória.

Na semana, passada, quando soube que a próxima novela da TV Globo vai ser ambientada no Morro da Penha, na Ponta D’Areia, resolvi voltar às minhas origens de infância e juventude, subindo sozinho de carro até a caixa d’água que fica no ponto alto do bairro tranquilo, onde o comerciante Marcelo da Conceição foi barbaramente assassinado na madrugada desta quarta-feira. Pouco antes de ser morto, ele defendia o bairro, dizendo que ali havia tranquilidade para se viver.

Quando estive em seu restaurante, há dez dias, encontrei-o almoçando com a mulher e duas empregadas e ele convidou-me para comer um delicioso prato feito, com carré, feijão, arroz, aipim frito, tudo simples e gostoso.

No sábado passado, resolvi voltar ao Decolores na companhia de Osmar Buzin, do Noi. Passamos a tarde comendo sardinhas, pastéis de siri e de camarão, além do seu bolinho de bacalhau, quando ele manifestou o desejo de poder oferecer o chope do Noi em seu bar e restaurante.

Desde a minha infância, quando estudei nos colégios Raul Vidal e Plínio Leite; frequentei a praia da Vitamina e o clube Fluminense de Natação e Regatas, esse bairro próximo do Centro de Niterói já se destacava como uma ponta de tranquilidade, com sua gente humilde e trabalhadora, seus morros sem vícios e sem drogas, enfim um lugar prazeroso para se morar.

Espero que apesar dessa tragédia violenta, com a perda de uma figura querida e conhecida, o bairro continue a ser o mesmo, onde a paz reine em suas ruas como sempre foi.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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9 thoughts on “Morte de comerciante atemoriza moradores da tranquila Ponta D’Areia

  1. Lamentável Isso,fui nascida e criada na Ponta da Areia…sempre q falecida algum morador os sinos das igrejas sempre tocavam como um sinal de respeito ao falecimento…infelismente acontesse essa tragédia em um bairro q pode ser dizer nobre e com histórias da época colonial onde tds gostavam da paz e tranquilidade do local…Mais hj já não sabemos mais…😣

  2. Nasci e morei na Ponta D’Areia e muitas saudades pois sempre muito tranquilo. Frequência o Decolores na época do tio de Marcelo. Meus avós tinhame um bar em frente a Ponte do Loide. Muito triste com a morte do Marcelo Eliane

  3. Sim Gilson, lamentável esses novos tempos.
    Temos uma população desassistida, revoltada e desorientada , graças a essa geração de políticos corruptos e de orientação deformada onde o interesse individual se sobrepõe ao coletivo.

  4. Pois é, Gilson ! Mais uma pessoa do bem ! Você descreveu muito bem a simplicidade deste bairro e ao mesmo tempo o jeito português de ser . Porto, vila, pescado e boa comida ! O Marcelo é uma figura muito conhecida no bairro, além de ser proprietário do Decolores , um restaurante de comida típica portuguesa, com preço justo e ainda muito saborosa! Uma grande perda !! Também torço para que a Ponta Dareia não perca sua tranquilidade , assim como a cidade de Niterói .

  5. É tudo muito triste. Mas o seu texto foi lindo e comovente. Trabalhei no JB e conheci a Condessa, uma bela pessoa. Abs

  6. Maravilhosa crônica-reportagem que invade o campo memorial do autor para denunciar a profanação de um dos últimos santuários de paz em Niterói, que Deus defenda nossa cidade aos poucos perdendo seu histórico sorriso. Culpa imediata e talvez da proximidade comensalista com nosso pobre Rio de Janeiro que não cessa de exsudar maldades alimentadas pelo longo descaso para com os menos favorecidos. Vade retro fautores das leis do abate e do ódio indiscriminado! Mais uma vez, parabéns Gilson Monteiro, cronista da estirpe de um Rubem Braga.

    1. Caro Gilson, considerava Marcelinho um grande amigo. Quando ele tinha 9anos de idade ficava com Fernando atendendo e aprendendo.
      Com o falecimento de Fernando assumiu o Decolores junto com Patrícia e caminhou para frente, mesmo sem estacionamento.
      Quando tive lá à 20 dias comentamos sobre tudo.
      Era um pessoal especial. Espero que a violência não desanime Patrícia . Pois o legado Decolores tem que continuar

  7. Moro à AV. FELICIANO SODRÉ, mas, sempre frequentei o MORRO DA PENHA. ESTOU COM 61 ANOS. FREQUENTO DESDE OS MEUS 8 ANOS.
    SEMPRE VI O MORRO como um lugar tranquilo, jamais esperava acontecer uma tragédia dessa e com uma pessoa do bem.
    Tomara, o morro continue tranquilo, bom, acolhedor, divertido, alegre, …
    E, meus sentimentos à toda família do MARCELO.

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