Ele deixou o Genesis no final de 1977 e partiu para uma vitoriosa carreira solo, reunindo ingredientes de progressivo e música fusion, também conhecida como jazz rock. Foi aí que a Rádio Fluminense FM entrou, por volta de 1984
Steve ficou de ir à emissora quando viesse passar uma temporada em seu apartamento na Lagoa, Rio. E foi o que aconteceu. Só que de uma maneira muito mais gratificante.
Steve soube através de amigos que a Fluminense FM tocava seus discos solo. Em casa, no Rio, ele começou a ouvir e ficou entusiasmado. Afinal ele não era o primeiro a dizer que a Fluminense era a única emissora de Rock autêntico do mundo. Mas disse. Disse várias vezes, dentro e fora do ar.
Numa manhã de 1984 soubemos que ele iria até a emissora. Foi uma confusão. Fizemos questão de ir buscá-lo e o gerente de promoções, saudoso Carlos Lacombe, tomou as providências. Só que, na casa de Steve, todos entenderam que iria “uma Kombi” e não Lacombe. Quando chegou o Lacombe com a Sipituca – apelido do carro da rádio – o porteiro estranhou. Esperava uma Kombi. Uma hora depois, Steve embarcava rumo à rádio.
Estávamos nervosos. Pensamos em fazer um programa especial, gravado, para ir ao ar em quatro capítulos contando toda a história do Genesis, mas alguém lembrou que a rádio não tinha fitas suficientes. Decidimos, então, entrar com ele ao vivo, avisando aos ouvintes que o programa não seria reprisado. Como repetir se não havia sido gravado? Mesmo assim muitos ficaram furiosos e com toda razão. Como a visita do músico foi mais ou menos em cima da hora, não houve tempo para fazermos chamadas. Mais: fazer chamada do que se não sabíamos o que seria dito?
Calmo, sereno, Steve entrou no estúdio e começou a entrevista, traduzida em tempo real pela locutora Selma Boiron (a primeira a falar na inauguração da radio, as seis da manhã de 1º. De março de 1982), que foi a nossa brilhante intérprete. Os ouvintes podiam perguntar o que quisessem e, evidentemente, caíram de pau em Phil Collins.
Hackett se mantinha elegante e em nenhum momento atirou pedras em seu ex colega de banda. Por outro lado, encheu a bola de Peter Gabriel, que ao longo da entrevista – que durou três horas – foi tratado de gênio para cima.
Entre as perguntas, jogávamos músicas dos trabalhos solo de Hackett e, também, dele com o Genesis. Lá pelas tantas, ele pegou o violão da emissora – onde Gil estraçalhou “Oriente” – e mandou “Horizons”, que gravamos num resto de fita e pusemos na programação. Durou alguns meses, até o dia em que faltou fita para gravar um dos raros comerciais e “Horizons” foi para o espaço.
Depois da entrevista que acabou umas duas da tarde, convidamos o músico para ir até a praia de Itaipu. Selma Boiron continuava dando a maior força na tradução simultânea e foi conosco.
Chegamos a Itaipu, uma das praias mais bonitas do mundo. Segundo o naturalista Augusto Ruschi me disse em 1980, é uma das poucas praias onde o sol de verão se põe no meio do horizonte. E foi numa tarde dessas, só que melhor, no inverno, que ficamos batendo papo sobre música com Steve, algo como conversar sobre Bossa Nova com Vinícius de Moraes e Tom Jobim em Ipanema.
Estávamos, eu, Lacombe, Hilário Alencar, Alvaro Luiz Fernandes, Selma Boiron, Steve e a mulher. Quando anoiteceu, o músico quis dar uma caminhada pela aldeia de pescadores. Eu achava aquilo tudo a cara da Grécia, vejam vocês.
Eram umas oito e pouco da noite, céu estreladíssimo de inverno, quando deixamos o bar rumo aos carros. Steve ainda foi dar uma olhada numa muralha do século 17, que cerca o Museu de Arqueologia que existe lá e, infelizmente, quase ninguém conhece.
Enquanto ele contemplava a muralha, eu e Lacombe fazíamos xixi nas proximidades. De repente, para assombro geral, começaram a subir gigantescas bolas luminosas vermelhas de dentro do mar. Eram centenas, milhares talvez. As bolas tinham tamanhos de ônibus e rumavam no mais absoluto silêncio para o céu. Ficamos meio paralisados. Steve chegou a dizer: “Discos voadores.” O fenômeno durou uns três minutos, mais ou menos.
Como não acreditava – como ainda não acredito – em discos voadores, achei que aquilo ali deveria ser algum tipo de… de… sei lá. Francamente. Fiquei preocupado com a exploração que poderia rolar em cima e combinamos de não falar com ninguém. Ficou por aí mesmo essa história.
Na manhã seguinte um jornal publicou uma nota curta sobre os tais discos voadores. Outras pessoas os tinham visto na Região Oceânica de Niterói e logo ligaram para a Redação. Eu, mais com o objetivo de queimar as ilusões, telefonei para o saudoso médico e ufólogo Sylvio Lago, um senhor que estava entre as figuras mais respeitadas mundialmente em se tratando de Objetos Voadores Não Identificados. Perguntei a ele se havia como provar se era uma ilusão de ótica coletiva. Dr. Sylvio explicou que só através da hipnose poderia checar. Todos nós teríamos que nos submeter ao exame. Preferi descartar o assunto.
Várias pessoas me perguntaram na época o que eu tinha achado dos discos voadores e eu desdenhei. Dizia que devia ser sinalização de barco, apesar de no íntimo nunca ter engolido essa história direito. Três minutos de bolas gigantes acesas subindo, em velocidade astronômica, é tempo demais.
Consegui manter o assunto relativamente na moita até abrir o Segundo Caderno do Globo numa edição de 1998 (eu acho), quando Steve Hackett estava no Rio de novo. Na capa do Segundo Caderno, uma enorme entrevista com ele e um subtítulo em letras garrafais dizia algo como “o fato mais impressionante no Rio foram os discos voadores que vi com Luiz Antonio Mello na Praia de Itaipu, em Niterói.”
Fui sacaneado em todas as rádios do Brasil e pelo telefone cansei de espinafrar disco voador. Os ouvintes entravam no ar me sacaneando, e para culminar, fui chamado para um programa de televisão para falar desta minha experiência. Não fui e ao atender o telefone falei que eu não era eu, era meu irmão, e que eu estava viajando. Aproveito esta oportunidade para implorar: nunca mais toquem nesse assunto comigo.
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