Conheci o João nos anos 80. Vamos voltar um pouco no tempo. Comecei no jornalismo aos 15 anos, em meados dos anos 70. Desde então, jamais deixei de escrever em jornais locais da cidade, mesmo trabalhando em São Paulo. Fui editor do saudoso semanário Lig quatro vezes, fundei o Setedias com amigos, fui articulista do Opinião e editor e editorialista da Folha de Niterói, nos anos 90. Mais tarde, colunista da Gazeta Niteroiense e agora escrevo semanalmente aqui na Coluna do Gilson, o site local mais lido por aqui.
Ao longo de todos esses anos, mais de 40, nunca deixei de defender Niterói em meus artigos. Se o povo está certo ao dizer que a melhor defesa é o ataque, então viva o povo! Assisti nas redações da vida todos os passos da cidade, todos os abismos em que ela foi atirada, todos os abrigos concedidos.
Foi na mídia da cidade que conheci o João Sampaio, lá no começo da década de 80. Bem humorado, inteligentíssimo, ele era presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – Niterói, professor de arquitetura da UFF e se candidatou a vereador. Foi até a Rádio Fluminense FM, que fundei e dirigi de 1982 a 1985, se apresentar e bater um papo, apresentar suas ideias, seus projetos. O papo se alongou, fomos almoçar umas quatro da tarde no Monteiro (Rua da Conceição) e a conversa esticou até o fim da noite. Nascia naquele dia ali uma bela e sólida amizade. Com o maior orgulho, fiz campanha para o João e fui com ele percorrer todas as ruas (todas!) de São Francisco, Icaraí, Ingá, panfletando. Ele acabou eleito como suplente de vereador.
Em 1990, mais ou menos, marcamos um papo no Steak House, nosso pouso contante. Ali encontrávamos amigos comuns como Caíque Fellows que chegou a dividir um escritório de arquitetura com o João no Center IV, praticamente em cima do Steak. Eu estava vindo de São Paulo e cheguei lá umas 10 e meia e o rebu já estava formado. João Sampaio virou uma mesa no Steak House em cima de um sujeito que falava mal de amigos dele e, felizmente, fui um dos “deixa disso” que conseguiram conter o João, um dos niteroienses mais radicais que conheci.
João foi uma pessoa existencial e emocionalmente rica, a ponto de fazer festas de aniversário surpresa em sua casa para seus amigos. Eu mesmo ganhei uma festa dessas, que jamais esquecerei. Como profissional, foi um dos mais brilhantes prefeitos da história de Niterói (1992-1996), sucedendo Jorge Roberto Silveira que deixava a Prefeitura com 96% de aprovação popular.
João tinha o hábito de pegar seu caderninho de telefones e fazer uma ronda, ligando para os amigos. Queria saber como estava a vida de cada um, se precisavam de alguma coisa. Não foram poucas as vezes em que ele me ligou perto da meia noite, em dia de temporal forte, e perguntava “vamos pegar o submarino amarelo?”. Foi o nome que ele deu a meu jipe, Toyota Bandeirante amarelo, que num ato boçal vendi anos depois. João acordava prefeito e dormia prefeito. Rodávamos de jipe até 3 da madrugada pelo Barreto, Fonseca, Jurujuba, ele no celular convocando secretários para reuniões de avaliação da chuva para de manhã cedo. Lembro de uma vez, na recepção de seu gabinete (eu esperava para entrar) e um sujeito saiu comentando “esse cara não é normal, trabalha como um cavalo. Estou aqui desde 7 da manhã…”.
Valeu, João! Mais um ano sem a sua presença pelas ruas, avenidas, vielas e, sobretudo, no coração da nossa cidade. Fique na paz.
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