Nos anos 1980 fiz algumas reportagens sobre o bairro para jornais locais que dirigi e não foram poucas as vezes que, via Associação, ele entrou com ações de embargo contra obras irregulares (venceu todas) e ameaçou uma Ação Popular quando pensaram em construir prédios. Mesmo na orla.
Conseguiu conter a ganância da especulação imobiliária que, naturalmente, o odiava. Mas para conseguir preservar e manter a qualidade de vida, “Seu” Tarquínio contava com o apoio incondicional da maioria absoluta dos moradores, aguerridos, e também de vários juristas e advogados que habitavam o bairro.
Na época havia jornais de bairro feitos por niteroienses dispostos a tudo para combater os “inimigos” da cidade e, como era um exemplo de cidadania, São Francisco sempre teve espaços generosos nesses jornais. Vários perderam anúncios oficiais da prefeitura por lutar a favor da cidade e não dos políticos.
Anúncios de imobiliária nem apareciam, mas havia suporte do comércio, serviços, enfim, de outros setores da economia local que anunciavam, interessados na saúde de Niterói e de seus habitantes. Não havia toma lá da cá. Hoje, uma grande maioria dos jornais locais são pautados pela prefeitura, Câmara dos vereadores e grupos movidos a grana.
Como jornalista há 46 anos, Bacharel em Comunicação Social com quase mestrado em Fundamentos Científicos da Comunicação Social, posso afirmar que jamais em tempo algum na história da civilização existiu jornal imparcial. A maioria, de Gutenberg até hoje, toma dinheiro do poder em troca de afagos. O que varia é o grau de comprometimento da linha editorial. É assim em qualquer lugar do mundo. Não seria diferente em Niterói.
Atualmente, alguns moradores do bairro mantém uma página no Facebook chamada “Movimento S.O.S. São Francisco”, com 7.300 membros. Quem quiser conhecer é só clicar aqui.
É uma página mais social com relatos de cachorros perdidos, Net fora do ar, etc. Eventualmente há reclamações como a do surgimento de mais um mega colégio no bairro, cujas obras já estão em andamento. Deve ser maior do que o Instituto Gay Lussac, que em 2014 foi comprado pelo grupo inglês Cognita, o maior do mundo em educação particular. O Gay Lussac cresce cada vez mais no miolo do bairro que o “Seu” Tarquínio chamava de “sagrado”. Isso sem falar de carros parados em filas duplas, barulho, etc.
Penso que ainda há tempo de São Francisco retomar o status de “bairro modelo”, apesar das condições sociais. Muitas famílias tradicionais se mudaram do bairro por causa da violência e das péssimas condições dos serviços. São Francisco tem o pior fornecimento de energia elétrica (a Enel peita descaradamente a prefeitura), o trânsito se tornou caótico, proporcionalmente é o bairro com maior número de flanelinhas, famílias abandonadas, usuários de crack, o inchaço imobiliário é visível.
Muitos dos novos moradores, de classe média alta, não têm vínculos afetivos com Niterói. Vieram de outras cidades como São Gonçalo, Rio, Baixada Fluminense e não conheceram os bons tempos do “bairro modelo”. Houve uma indiscutível desmobilização da associação de moradores justamente por não poder contar com o tal vínculo afetivo dos novos moradores. “Seu” Tarquínio, com razão, me disse uma vez que “tem gente que acha melhor o luxo de morar num apartamento, desses que ostentam riqueza, do que preservar o bairro. Essa gente é que vai destruir o bairro, com apoio da prefeitura e das imobiliárias”, dizia o visionário.
A página “Movimento S.O.S. São Francisco”, no Facebook, é uma excelente ferramenta de mobilização para que o bairro seja tratado com o mínimo de respeito pelas autoridades. A não ser que os emergentes já sejam maioria no bairro e eu não tenha notado.
P.S. – Governador Wilson Witzel, está nos seus planos um dia conhecer Niterói, latitude e longitude de Niterói -22,8859 -43,1152 respectivamente, uma simpática cidade a somente 23 quilômetros do seu Grajaú?
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