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Coluna do LAM

Queda histórica nos homicídios no RJ, mas balas perdidas continuam matando inocentes

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Se o Estado do Rio apresenta sinais de recuperação na área de serviços – turismo, cultura, comercio, restaurantes, bares – deve-se, também, aos bons resultados na segurança pública. No entanto, as balas perdidas continuam matando, principalmente crianças, um drama que clama por solução. Neste 2020, quatro pessoas morreram na Região Metropolitana.

Até meses atrás a população estava sitiada, enquanto nas ruas, ignorando a luz do dia, bandidos ostentando fuzis, granadas e pistolas matavam e assaltavam em qualquer lugar, num macabro “liberou geral”. Com o estado estava abandonado nem papel para fazer Boletim de Ocorrência havia em muitas delegacias. Viaturas e armamentos estavam sucateados e a corrupção de maus policiais tornou-se gritante.

O Instituto de Segurança Pública (ISP) anunciou, esta semana, a maior queda no número de homicídios no Estado do Rio desde 1991. Em 2019 foram 3995 vítimas, menos 19,3% em relação a 2018 e a primeira vez na história que que fica abaixo dos quatro mil assassinatos em um ano. Já a quantidade de mortes em confronto com a polícia foi a mais alta: 1.810 casos.

Em Icaraí, redução de roubo de carros foi de 95%. Na cidade toda de foi de 75%

Niterói registrou, em dezembro, mais um mês de queda seguida nos índices de criminalidade. Houve redução de 75,79% no roubo de veículos em dezembro de 2019, quando comparado com o mesmo mês de 2018. Destaque na área da 77ª DP (Icaraí) com 95,65%, seguido pela 79ª DP (Jurujuba) com 83,87%, além da 78ª DP (Fonseca) com 74,68% e na área 81ª DP (Itaipu) com 72,73%.

Os leitores que me acompanham aqui no site Niterói de Verdade, de Gilson Monteiro, sabem que estranhei a eleição do governador Wilson Witzel, um desconhecido de quem a maioria nunca ouviu falar.

O decepcionado, indignado, desiludido eleitor fluminense, cansado de lambanças atirou o mofo pela janela e optou pelos novos com reputação, honestidade, ficha limpa. “Ladrão nunca mais” foi o lema que, com certeza vai valer também para a eleição para prefeito. Roubou, está sob suspeita, mentiu, prevaricou? Dançou.

O vaidoso Witzel venceu porque reviraram e investigam a sua vida e até agora não encontraram indícios de passado sujo, envolto em névoas, armações, malandragem pelo menos até hoje (escrevo dia 23 de janeiro de 2020). Fez uma campanha oportunista, surfando na onda dos novos políticos que prometeram estado eficiente e solução do drama da segurança pública, sua prioridade. Os resultados estão nos números do ISP.

“Alguém que pega um fuzil para atirar na polícia ou atirar na população só pode ser preso ou ser morto porque ele está enfrentando a polícia com arma de guerra.” (Wilson Witzel, governador)

Durante o lançamento do vigésimo núcleo do programa Segurança Presente, em Bonsucesso, o governador comentou a queda dos índices:

–  A Polícia Civil do Rio de Janeiro estava sucateada, hoje é exemplo para todo o Brasil. Aumentamos o índice de solução de casos de homicídios, conseguimos reduzir o número. Temos o menor índice de homicídios da história do nosso estado. Não adianta prender o traficante e não prender quem coloca dinheiro no tráfico. E a Polícia Civil está fazendo isso. Está prendendo milicianos e está prendendo os empresários do pó, esses são os mais importantes.

Nós estamos acabando com o crime organizado. Nunca se enfrentou com tanta força e tanta veemência o crime organizado e muitos questionam a polícia sobre o aumento da letalidade contra o vagabundo por parte da Polícia Militar. Alguém que pega um fuzil para atirar na polícia ou atirar na população só pode ser preso ou ser morto porque ele está enfrentando a polícia com arma de guerra.”

O programa Segurança Presente é outro fator que determinou a queda da criminalidade. Uma receita simples, alardeada desde os anos 1970: policiamento ostensivo localizado, com interação total com a população. Essa é a essência do programa estadual, policiamento regional bancado pelas prefeituras, feito por PMs de folga. Os cidadãos sentem proximidade, confiança, os policiais acabam conhecendo o cotidiano das regiões onde vivem, o que facilita as investigações e complica, muito, a vida da bandidagem. Em um ano, o Segurança Presente de Niterói prendeu mais de 400.

É um modelo de policiamento semelhante ao que salvou Nova Iorque nos anos 1980, adotado com sucesso em muitas cidades da Europa e da Ásia, mas que depende de continuidade e aperfeiçoamento diário. O programa Segurança Presente não pode ser tratado como voo de galinha, chuva de verão. Afinal, já há candidatos a prefeito se apropriando do programa que, ao lado do meio ambiente e da mobilidade (investimento em malhas cicloviárias, por exemplo), é uma das vedetes eleitorais deste 2020.

Devagar, as pessoas estão voltando a sair as ruas. Bairros como Icaraí, Santa Rosa, São Francisco, Fonseca, Jardim Icaraí, que viviam sob toque de recolher, começam a assistir ao reaquecimento no setor de serviços. Os números positivos na economia nacional são fundamentais, mas inegavelmente os cidadãos começam a acreditar que as coisas podem, sim, mudar.

No entanto, calejados, muitos desconfiam do futuro, acham que o Segurança Presente é marketing eleitoreiro passageiro. Por isso, a missão dos governantes é trabalhar para que o programa permaneça e a confiança do traumatizado cidadão seja resgatada.

E que a tragédia das balas perdidas seja enfrentada com rigor.

 

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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