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Ônibus pegam carona na crise

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Apesar dos ônibus de Niterói terem a tarifa mais cara do país, diante do percurso curto de suas linhas, as empresas de transporte público que operam no município estão chorando miséria. Alegam que a tarifa de R$ 3,90 não cobre a queda de mais de um terço no número de passageiros nem o aumento do preço do combustível. Por isso, não têm um prazo para implantar o BHLS (sigla em inglês para ônibus de serviço de alto nível) ligando Itaipu a Charitas pela mal planejada Transoceânica. De carona na crise justificam o fato de não terem climatizado todos os ônibus de Niterói, como previa o decreto municipal que lhes renovou a concessão do transporte público.

Com suas principais lideranças empresariais presas pela operação Cadeia Velha, juntamente com três deputados acusados de fazer leis que favoreciam seus negócios, as empresas cariocas também publicaram esta semana (29/11), nos principais jornais do Rio, a mesma história de falta de passageiros, aumento de custos etc e tal, que as congêneres niteroienses repetem.

Com um fluxo de caixa privilegiado pela entrada contínua de dinheiro vivo e dezenas de benefícios fiscais, pode-se dizer que choram de barriga cheia. Nenhum órgão do poder público tem controle sobre o que elas faturam. Aceitam as planilhas apresentadas para a aprovação de novas tarifas e só.

Enquanto isso, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, fala em BRT, BHLS e, mais recentemente, em VLT. Descobriu a pólvora do transporte público, mas faltou combinar com os russos. A assessoria de comunicação do Sindicato das Empresas de Transporte do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj), diz que estão aguardando um estudo da prefeitura, “ainda em fase preliminar, que inclui a tipologia da frota” que elas deverão operar no corredor expresso da Transoceânica.

Quer dizer: R$ 420 milhões gastos na obra (que terão de ser pagos pelos próximos vinte anos pelos contribuintes) ainda não foram suficientes para garantir um transporte rápido e de qualidade na Transoceânica. O corredor expresso exigirá ônibus com portas dos dois lados e outras especificações que o qualifiquem como BHLS, mas a porta-voz do Setrerj diz que “o consórcio (de empresas que operam na Região Oceânica) está acompanhando de perto e todas as possibilidades estão sendo conversadas”.

A Transoceânica já teve sua inauguração adiada para novembro de 2018. Antes, sua principal finalidade, que seria a de levar passageiros da Região Oceânica com destino ao Rio até a estação hidroviária de Charitas, foi frustrada pela redução do número de viagens dos aerobarcos, esvaziados pela tarifa de R$ 16,50, inacessível para muitos.

A prefeitura de Niterói acaba de fechar agora um acordo com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) para “um estudo de viabilidade visando a implantação de uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e melhorias na mobilidade urbana”.

Mais um projeto que dificilmente sairá do papel. As empresas reconhecem que “os ônibus elétricos, ou outros tipos de carros que utilizem combustíveis não fósseis, são o futuro”; e o prefeito diz pretender até o fim de seu mandato (em 2020), concluir um projeto técnico. Nada mais do que planos. “A velocidade em que eles (os ônibus elétricos) se tornarão uma realidade no nosso dia a dia, depende da necessidade de investimento e da capacidade das empresas de arcarem com os custos que, no fim da linha, são repassados para os usuários”, afirma o Setrerj.

A exigência de climatizar a frota de ônibus que opera em Niterói não foi totalmente cumprida pelas empresas do município. O Setrerj alega que “essa meta nunca esteve prevista no contrato de concessão”. Acrescenta que “as empresas gostariam muito de ter conseguido cumprir a meta, mas não tiveram capacidade econômica para isso”. 

“Hoje, 75% da frota está climatizada. Infelizmente, apesar do esforço, com a crise econômica e a contração dos financiamentos, nem todas conseguiram atingir a meta que, de acordo com o decreto municipal, é de 90% da frota climatizada no município”, afirma o sindicato, depois de apresentar dados do anuário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), segundo os quais o transporte coletivo perdeu 37,6% de passageiros de 1994 a 2016. Ao mesmo tempo, entre 1999 e 2017, o estudo aponta um aumento no preço do diesel de quase 200% a mais do que o da gasolina. A pesquisa realizada em nove capitais do país mostra, ainda, que nos últimos 12 meses quase 10% das empresas associadas à NTU deixaram de operar em todo o Brasil. O motivo seria, segundo o Setrerj, “a queda de demanda associada ao aumento dos custos”.

Ao passo que não levam a mobilidade urbana a um destino satisfatório, as empresas de ônibus dormem no ponto, esperando por novas e mais generosas tarifas. Isto se o Ministério Público não acabar logo com a roleta das planilhas.  

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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