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O refúgio literário do imortal Marco Lucchesi em um paraíso de Niterói

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Marco Lucchesi comanda a Biblioteca Nacional, uma das mais importantes do mundo

Desde os 12 anos, Marco Lucchesi já mergulhava com dedicação em romances e poesias, dominava quatro idiomas e publicou seu primeiro livro aos 18. Hoje, no comando da Biblioteca Nacional — considerada pela UNESCO uma das mais importantes do mundo — Lucchesi encontra serenidade e sentido em sua trajetória. A Hemeroteca Digital, com mais de 100 milhões de documentos entre livros e jornais, é um testemunho do compromisso cultural que ele lidera com paixão.

Ex-presidente da Academia Brasileira de Letras por quatro mandatos, Lucchesi descobriu em Itacoatiara, na Região Oceânica de Niterói, um verdadeiro paraíso. Cercado por ondas gigantes e pela exuberância da Mata Atlântica, o escritor encontrou o cenário perfeito para viver, produzir suas obras, ouvir música e tocar piano. O bairro, diz ele, com sua resistência firme à especulação imobiliária, preserva não apenas sua natureza — mas também a alma de quem busca beleza e quietude.

“Itacoatiara tem muito da beleza do mundo”, afirma. “É ali que o tempo desacelera, onde se respira o livro das rosas, do mar e do azul — a obra silenciosa da natureza, que exige respeito e contemplação”. O bairro vibra como um poema ainda não escrito, e inspira Lucchesi a continuar sua missão literária.


Quando leu seu primeiro livro?
Imagino que li meu primeiro livro aos 6 anos. Eram livros infantis, mas a partir dos 12 anos comecei a ler com mais rigor, com mais atenção, estudando romances, poesias, os livros em geral.

E quando escreveu o primeiro livro?
Infelizmente, escrevi meu primeiro livro no final dos 18 anos, início dos 19. Digo “infelizmente” porque foi muito cedo. Era um livro com a estrutura daquela idade, daquele momento.

Hoje você é presidente da Fundação Biblioteca Nacional. O que ela representa para você?
Esta biblioteca é uma das mais importantes do mundo, segundo dados da UNESCO. É a maior da América Latina. É o mais antigo centro da cultura brasileira e um dos sites mais acessados do governo federal — com quase 100 milhões de acessos por ano — principalmente por conta da Hemeroteca Digital, com jornais e revistas disponíveis para consulta pública. Estimamos 10 milhões de pontos de acesso no acervo.

Desde 2007 temos ampliado nosso espaço virtual, que é tão essencial quanto o físico. Isso permite ao leitor mais fontes de informação e agilidade na pesquisa, desde o final do século XVIII até os dias de hoje, desde que respeitados os direitos autorais. Agora o leitor pode acessar tudo de casa, com muita facilidade. A digitalização é rápida e eficiente, até mais do que em muitas bibliotecas da Europa — algumas não têm o número de objetos digitalizados que nós temos.

A razão do sucesso foi o trabalho prévio com microfilmes. Quando entramos na era digital, isso acelerou o processo. Pudemos converter imagens em texto graças ao sistema OCR. O que isso significa? Velocidade. Por exemplo, se o leitor procura por “Gilson Monteiro”, mesmo sem saber o jornal ou o período, consegue encontrar. A consulta pode ser feita de casa, sem burocracia. Eu mesmo encontrei um artigo que meu pai, Egídio Lucchesi, escreveu sobre sua chegada ao Rio de Janeiro — algo que eu só ouvira falar. Estava lá, em uma entrevista para o repórter Irênio de Freitas.

Sobre a Hemeroteca: como ela mudou a universidade brasileira?
Mudou muito, especialmente nos últimos 20 anos. Pela primeira vez, o Brasil passou a ter acesso direto à sua própria história. Alguém pesquisando astronomia, por exemplo, descobre fatos históricos relevantes. Isso mudou também a forma de escrever teses universitárias, recuperando dados antes inacessíveis.

Você presidiu a ABL por quatro mandatos e continua escrevendo…
Sim, escrevo todos os dias. Acabei de lançar Poesia Mundi, com poemas que escrevi ao longo de 30 anos — foi lançado em São Paulo e será lançado no Rio em agosto. Outro livro que estou finalizando é Notas sobre a Beleza na Matemática, um ensaio filosófico. Estou também terminando uma novela. Enfim, é um vício, um destino, uma obstinação.

O que significa para você morar em Niterói — mais especificamente em Itacoatiara?
Morar em Niterói é a única possibilidade que encontro. Não vejo outra geografia que me acolha. Nós somos de Niterói — ela nos deu abrigo e acolhida. Ainda há amigos por aqui, como Vossa Senhoria, mas são poucos em comparação com o passado.

Gosto muito de estar nesse ambiente, apesar da raiva que sinto ao ver o crescimento desordenado da cidade. Não estou culpando ninguém, mas faltou cuidado com a liberdade dos espaços. Há um amor pela paisagem, como em outros países, mas também uma voracidade urbana que machuca. Mesmo assim, convivemos com os fantasmas: entre prédios, ainda encontro a casa que amei, o rosto que ocupava uma padaria que não existe mais. Por isso, ainda é a minha casa.

Morei em Icaraí por muitos anos, antes mesmo da Ponte. Os transmissores das rádios Tupi e Tamoio foram instalados na Ilha de Itaoca. Depois fui para Itacoatiara. Mas o que importa é que Itacoatiara permanece como um núcleo de resistência, freando a especulação imobiliária com firmeza.

E a natureza, ela escreve livros também?
Nós escrevemos livros, mas a natureza também. Levou muito tempo para escrever o livro das rochas, dos peixes, do mar, do azul… Precisamos respeitar esses livros. A natureza é autora da beleza silenciosa que nos inspira.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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