Essa pequena burguesia metida a elitista trata o povão como um E.T., habitante de outra galáxia social. Não dizem nunca “nós, o povão” e sim “eles, o povão”, indiretamente (?) afirmando que “não me misturo com essa gentalha”. Para eles “o povão não sabe votar porque não tem educação”, como se dissessem, “nós da elite, votamos muito bem porque somos bem informados. Não somos Zé Povinho”.
Complexados, esquecem (ou sequer sabem) que a partir da segunda metade dos anos 1990, quando a internet tomou conta e transformou telefone celular em radinho de pilha de 100 reais (10 prestações de 10 reais sem juros) para o povão, implodiu o monopólio da informação dos metidos a besta, das elites que servem caviar paraguaio com concha de feijão. A informação está aberta para todos, nas orlas, ocas, favelas, motéis.
Dizem que o povo vota em quem dá mais. Que lastro moral tem qualquer pessoa para julgar o voto popular se o sistema político está podre? São exatos 35 partidos (!) no Brasil, recorde mundial, abrigando déspotas, moleques, traficantes, assaltantes, corruptos, que visitam os grandes complexos de favelas e similares, oferecendo de tudo ao eleitor. Dinheiro vivo, prótese dentária, jabás diversos.
Como condenar o povão se Odebrecht, OAS, UTC e outras grandes empreiteiras compraram o estado brasileiro em plena luz do dia? Que moral tem a elite de exigir que o povão vote em ideais, projetos, ideias, lisura, se a auto denominada fina flor elege Cabral, o filho dele (deputado federal), esse bando de “gente bem” que assaltou os cofres públicos? É o pobre que não sabe votar? É o povão que é corrupto?
Foi o povão humilde quem elegeu, sozinho, Collor? Não. Foi esse mesmo povão que transformou em autoridades de colarinho branco Eduardo Cunha, Aécio, Rodrigos, Moreiras, Padilha, Dilma/Temer, Lula, Sarney? Também não. O povão humilde sabe exatamente quem é quem no xadrez nefasto da politicalha brasileira porque é atento, intuído, conversa, anda de trem, metrô, ônibus, acessa a internet, sabe das coisas.
Sabe, por exemplo, que a ex primeira dama do Estado do Rio deveria estar em uma jaula igual a das criminosas pobres, que também tem filhos pequenos, mas não tem grana para cumprir pena em casa, um palácio no Leblon, o metro quadrado mais caro do país.
Antes de atirar o povão na guilhotina, seria de bom tom a sociedade lembrar em quem votou para senador, deputado, governador, prefeito, vereador nas últimas eleições. Ninguém é tolo. Todo mundo sabe que a regra é imundice, a lisura exceção. Se o Brasil chegou a esse ponto (que vá até o fundo em nome de uma reconstrução sadia) não foi por culpa de lençóis pendurados em varais de favelas, mas de guardanapos enterrados nas cabeças de larápios, playboys bêbados de vinhos de safras centenárias, torrando milhões da saúde, educação e tudo mais em orgias na Europa.
O povão não acredita em políticos e o recente maior assalto aos cofres públicos da história do país, protagonizado pelo PT, aprofundou ainda mais a certeza de que poucos valem alguma coisa. E quando desce do ônibus super lotado para fazer a baldeação para o trem rumo ao emprego, as 5 e meia da manhã, o povão olha para os jornais pendurados nas bancas e não vê gente humilde algemada nas primeiras páginas por crime de corrupção política. “Esse sujeito passou lá no bairro prometendo legalizar lotes, o outro disse na TV que faria uma faxina nas contas públicas, aquele que está embaixo falou na TV que sua vida é limpa e que a justiça vai mostrar a sua inocência”, pensa em silêncio o povão que segue em sua rotina de terror e êxtase.
É esse povão que a playboyzada dizia, há três anos, que não sabe votar. Sem acreditar que nada será como antes, depois da maior faxina da história do Brasil.
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