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Niterói já teve sambódromo na Praia Grande, antes do Caminho Niemeyer

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Bugres do Cubango desfila no sambódromo do aterro da Praia Grande, em 1982

Ter um sambódromo para o desfile de carnaval no aterro da Praia Grande já foi uma experiência em Niterói que quase deu certo há 40 anos. Agora, representantes das escolas de samba niteroienses propõem levar o espetáculo para onde hoje está o Caminho Niemeyer. A pandemia de Covid fez a prefeitura cancelar o carnaval de rua e em clubes e adiar o desfile das escolas para abril.

A decisão da Neltur e da Comissão de Carnaval ainda será conhecida. A proposta dos sambistas é desfilarem em 21, 23 e 24 de abril. A sexta-feira 22 ficaria sem programa, pois é o dia em que Viradouro, Cubango e Sossego se apresentarão na Sapucaí com muitos componentes de outras escolas niteroienses.

Não seria a primeira vez que a passarela do samba de Niterói ficaria no aterro da Praia Grande. Em 1981, o então prefeito Moreira Franco ali instalou arquibancadas e camarotes para o público assistir a disputa carnavalesca. A prefeitura montou arquibancadas no aterro da Praia Grande, atrás de onde ficava o Terminal Rodoviário Norte.

Em 1982, a passarela com pista de 300 metros de extensão, arquibancadas cobertas e 40 camarotes passou a oferecer 12 mil lugares. Ficava ao longo da Rua Professor Plínio Leite, ao lado do Terminal Norte. Em 1984, os desfiles voltaram para a Avenida Amaral Peixoto, no governo de Waldenir Bragança.

Sambódromo permanente era um sonho

A ideia de existir um local fixo para os desfiles de escolas de samba já havia surgido no Rio de Janeiro, em 1978, quando foram montadas as primeiras arquibancadas na Avenida Marquês de Sapucaí. Desde a Praça XI, passando pelas Avenidas Presidente Vargas e Presidente Antonio Carlos, o Rio trocava o endereço dos desfiles de tempos em tempos. Ao assumir a prefeitura carioca em 1979, Israel Klabin propôs a construção de uma passarela permanente para os sambistas na Marquês do Sapucaí.

– Com a construção de um estádio próprio se fará algo que redundará em benefício dos turistas e dos próprios sambistas, que poderão desfilar todos os sábados, num espetáculo permanente que dará maior renda às escolas de samba – sonhava Klabin em 1980.

Em 1984, o governador Leonel Brizola inaugurou a obra de Oscar Niemeyer fixando na Sapucaí a passarela do samba carioca. Tem 85 mil metros quadrados, 700 metros de comprimento e capacidade para 88.500 pessoas. Foi construída em 120 dias. Depois do carnaval, os camarotes serviriam como salas de aula de escolas públicas.

Em Niterói, o sambódromo continuou no esquema de montar e desmontar arquibancadas de ferro, mas a conta era cara. Em seu primeiro ano de mandato (1983), o prefeito Waldenir Bragança armou o sambódromo no aterro. Mas nos anos seguintes teve que retornar o desfile para a Avenida Amaral Peixoto, com instalações mais modestas. A prefeitura enfrentava grave crise econômica.

Jorge Amado no carnaval de Niterói

Nos anos de glória, a passarela do samba niteroiense recebeu como jurado do desfile de 1982 o escritor baiano Jorge Amado. O ilustre convidado, retribuindo a gentileza, deu entrevistas aos jornais garantindo que Niterói fazia o segundo melhor carnaval do país, atrás apenas de Salvador, na Bahia.

Exageros à parte, na verdade o sambódromo de então tinha fácil acesso, estacionamento para três mil carros, banheiros, lanchonetes e telefones públicos por toda parte. Recebera quatro mil lugares a mais do que no ano anterior. Incluindo a decoração, a prefeitura de Niterói gastou na época 9 milhões de cruzeiros, quando a cotação do dólar estava em Cr$ 136,75. Hoje, para armar arquibancadas e camarotes, iluminar, sonorizar e decorar o espaço custaria cerca de R$ 7 milhões, segundo experts no assunto.

A passarela do samba da Praia Grande era apenas para as escolas do primeiro grupo. As do segundo e os blocos de enredo tinham que continuar desfilando na Avenida Amaral Peixoto, onde a prefeitura montava arquibancadas com três mil lugares.

O pedido de troca do local dos desfiles de 2022 foi feito à Comissão de Carnaval da prefeitura, esta semana, por representantes da Liga das Escolas de Samba (Lesnit) e da União das Escolas de Samba e Blocos (UESBN). Deverão desfilaÍr 31 escolas de samba  em Niterói. Algumas dessas agremiações são sediadas em São Gonçalo, mas há anos participam do carnaval niteroiense, como a Independentes do Boaçu e a Unidos do Barro Vermelho.

Gilberto Fontes

Repórter do cotidiano iniciou na Tribuna da Imprensa, depois atuou nos jornais O Dia, O Fluminense (onde foi chefe de reportagem e editor), Jornal do Brasil e O Globo (como editor da Rio e dos Jornais de Bairro). É autor do livro “50 anos de vida – Uma história de amor” (sobre a Pestalozzi), além de editar livros de outros autores da cidade.

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