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Niterói inaugura estátuas que logo ficam esquecidas ou somem dos pedestais

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Ao inaugurar duas estátuas para homenagear o ator Paulo Gustavo, a prefeitura de Niterói cercou-as no Campo de São Bento com um gradil para evitar danos aos novos monumentos. O mesmo cuidado o município não tem com outras esculturas. Algumas de bronze sumiram, como as do poeta Casimiro de Abreu, inaugurada em 1914 na Praça César Tinoco, no Ingá. Outras foram vandalizadas na mesma praça, como o busto do jurista Jorge Loretti (o aro dos óculos foi furtado) ou estão com o metal azinabrado, se deteriorando nas praças públicas.

A polêmica estátua do Trabalhador (foto), várias vezes enjeitada desde sua inauguração no dia 1° de maio de 1950, no Centro do Rio, e depois pichada da Praça Enéas de Castro, no Barreto, repousa hoje em frente à biblioteca do Parque Palmir Silva, na Zona Norte da cidade.

A peça de granito tem três metros de altura. Mas está escondida por folhas de palmeiras Fênix que a cercam no Parque do Barreto. A situação faz lembrar das histórias infantis “Onde está Wally?”, em que o leitor deve encontrar o personagem em meio a uma imagem confusa.

Já as estátuas representando Paulo Gustavo e sua personagem Dona Hermínia ganharam lugar de destaque no Campo de São Bento, em Icaraí. À inauguração no dia 22 compareceram políticos e parentes do homenageado. O ator, falecido em maio vítima de Covid-19, era niteroiense e grande divulgador da cidade. Merece a lembrança, não resta dúvida. Mas pelo que se vê com outros monumentos em Niterói, a torcida é para que logo não seja esquecido pela prefeitura.

Depois da discurseira inauguratória, as estátuas de Paulo Gustavo foram cercadas por um gradil. A prefeitura disse que a providência era provisória, depois da reação do público que queria chegar mais perto do monumento. Está virando uma triste rotina para a memória niteroiense o sumiço de estátuas e outros objetos. O busto de Feliciano Sodré, que ficava na Praça Renascença, em frente à antiga estação de trem, desapareceu em 1990. E até hoje a prefeitura não sabe explicar que fim levou o relógio Rolex que ficava em um pedestal na Praça Martim Afonso mostrando a hora certa a quem chegava de barca a Niterói ou ia para o Rio.

Trabalhador segue a sina dos enjeitados

Mesma sorte não teve o Trabalhador esculpido por Celso Antonio há 71 anos. Ao descerrar o pano que cobria a estátua de três metros de altura inaugurada em frente ao Ministério do Trabalho, no Centro do Rio, o presidente Eurico Dutra, que encomendara a peça, disse de cara: “Não gostei!”

Dutra espantou-se com a figura de um homem atarracado, forte, lábios grossos, sem camisa, descalço e trajando um avental. Foi a deixa para os jornais da época criticarem o monumento. O Globo escreveu: ““É uma estátua irreconhecível, barrigudona e de roupão de granito, como se fora um símbolo do banhista ou do afogado desconhecido”.

Desceram o Trabalhador do pedestal três dias depois de inaugurado e mandaram-no para um depósito, de onde somente saiu doado para Niterói, em 1974. Ficou pouco tempo na Praça Enéas de Castro, no bairro operário de Niterói. Sofreu muitas pichações e vandalismo até ser levada para o Horto do Barreto.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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