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Coluna do LAM

A morte dos coqueiros de São Francisco

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Os três coqueiros da Rua Leonardo Villas Boas abatidos pela prefeitura “verde” de Niterói (no detalhe, uma das árvores cortadas)

Meses atrás uma mulher entrou na bucólica rua Leonardo Villas Boas, em São Francisco e parou seu carro embaixo de um vistoso e saudável coqueiro. Irmão de outros dois que, com ele, ficavam lado a lado na calçada.

Um coco caiu sobre o carro da mulher que, enfurecida, fez um escândalo e disse, em alto e bom som, que ia mandar a Prefeitura cortar o coqueiro.

Há duas semanas, funcionários do Departamento de Parques e Jardins, que é subordinado à Secretaria de Conservação da Prefeitura (Seconcer), chegaram a rua Leonardo Villas Boas com uma motoserra e apesar dos protestos dos moradores mataram o coqueiro, serrando seu caule junto ao chão (foto).

A ação foi noticiada por um grande jornal da cidade no último domingo, dia 26 de novembro.

Na última terça-feira, dia 29, à tarde, funcionários do Parques e Jardins voltaram a rua Leonardo Vilas Boas e ceifaram os outros dois coqueiros. Covardemente, sem qualquer explicação. Mais: quiseram serrar uma outra árvore mas um morador conseguiu demove-los do que seria o quarto crime.

A todo instante vemos no Facebook e outras redes sociais árvores sendo serradas pela cidade sem que outras sejam plantadas no mesmo local, como determina o bom senso. A pergunta que fica é “será que a Seconser sabe o que os seus subordinados estão fazendo por aí, além de denegrirem a Prefeitura que luta para manter uma imagem ecológica?”  Afinal, o prefeito é do Partido Verde.

Em Sydney, Austrália – cidade que a propaganda oficial da prefeitura gosta de comparar Niterói – para que uma ação dessas seja feita é preciso que a Prefeitura prove, através de perícia independente feita por organizações de fora, que a árvore (ou indivíduo arbóreo, como chamam os “verdes” aqui da Prefeitura) esteja irreversivelmente doente.

Ainda assim é preciso marcar uma reunião com a associação de moradores do bairro e caso a comunidade aprove, aí sim a árvore será cortada. Em seu lugar serão plantadas cinco mudas adultas da mesma espécie. Cinco!

Da mesma maneira que a Prefeitura daqui insiste em fingir que não vê que a rua Álvares de Azevedo foi “eleita” a rua mais engarrafada do país, esses cortes de árvores mereciam uma explicação.

A rigor, se fôssemos uma cidade democrática, a associação de moradores de São Francisco deveria ter sido comunicada que os três coqueiros seriam cortados, além dos motivos para isso.

Mas a realidade é outra. Três coqueiros sadios (todos os moradores da Leonardo Vilas Boas afirmam) vão ao chão e, quase diariamente, outras árvores na cidade são vitimadas por essa insanidade que assola justamente um órgão que deveria defender o meio ambiente. Algo tão absurdo quanto o Corpo de Bombeiros começar a atirar coquetéis molotov pela cidade.

Absurdo.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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