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Leiteria Brasil, um ponto de convívio social que deixou saudades em Niterói

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Com quase todo mundo confinado em casa, os mais velhos ficam remoendo o passado e pedindo para a Coluna relembrar lugares de Niterói que marcaram suas vidas e deixaram saudades. Um desses lugares de grande convívio social era a Leiteria Brasil, no primeiro quarteirão da Rua da Conceição, no Centro. Funcionou de 1936 a 2002, onde hoje está a Casa Pedro.

A casa abria cedo para o café da manhã e fechava às 2h da madrugada, para atender os notívagos. O movimento na Leiteira Brasil era o dia todo, com a frequência de gente de todas as camadas da sociedade.

O desjejum era frequentado, na maioria, por lojistas, empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e bancários. Eles aproveitavam a variedade da primeira refeição, com leite puro, pão fresquinho, queijos variados, ovos poché, frutas da estação, coalhada imbatível, torrada Petrópolis e outras guloseimas.

O almoço era também concorrido, com um cardápio leve e pequeno. A preço justo servia-se o filé a cavalo, com ovos, arroz e batata frita; o picadinho a americana, com carne, purê e arroz; o filé de peixe a americana, com o mesmo acompanhamento; o filé à francesa, com arroz e batata frita.

Na parte da tarde, as mães e as avós levavam os filhos e netos para o milk shake ou a banana split com três bolas de sorvete e cobertura de calda de chocolate, morango ou caramelo. Já os adultos tinham a sua disposição chás variados, sucos de frutas, cremes de amido e milho, mingau de aveia, arroz doce, além de sanduíches, bolos, pudins, gemadas, biscoitos e o sanduíche americano.

À noite, tribos variadas ficavam até a casa fechar. Eram estudantes, que depois viraram advogados, médicos, dentistas, professores, jornalistas, funcionários públicos. Eram de todas as ideologias e correntes partidárias, mas predominava a turma da esquerda, na cidade sede do Partido Comunista.

Tinha um garçom, o Nelson, que trabalhou uma vida inteira e virou lenda de bondade. Ele se tornou amigo dos universitários frequentadores, que pediam sempre o prato mais em conta e saboroso, que era carne moída, arroz, purê e ovo. Quando alguém não tinha dinheiro, o prestativo garçom dava sempre um jeito, arrumando um freguês para patrocinar o prato de comida.

Frequentadores assíduos

Sentaram-se nas mesas daquela histórica Leiteria Brasil, para conversar sobre política e amenidades, muita gente que brilhou nas mais diversas atividades, como Roberto Silveira, que se elegeu governador do Estado do Rio de Janeiro.

Tinha um grupo assíduo, que frequentava a casa de segunda a sábado, porque domingo ela não abria. Era a turma do sereno, que quando a Leiteria arriava as portas, saiam caminhando poucos metros até a Praça Martim Afonso e ficavam sentados ao pé do busto de Arariboia. O bate-papo ia longe, às vezes continuava em uma travessia de barca até o Rio, onde a turma ia comer o angu do Gomes, na Praça XV.

Revezavam assentos em dois grandes bancos da praça, onde se comentava de tudo o que acontecia na terra do cacique temiminó, figuras que fizeram história na ex-capital fluminense, como os ex-deputados Claudio Moacir, João Galindo e Afonso Celso Monteiro; os jornalistas João Luiz Faria Neto, Jourdan Amora, Rogério Coelho Neto e Continentino Porto; o delegado de Polícia Roulien Pinto Camilo; advogados Marlo Fabiano Seixas, Nilton Flacks, Célio Junger, Luiz Carlos Silva e Walter Ventura; e mais Orlando Carlos Navega, Amaro Pessanha, Arilo Oliveira, Joaquim Metralha, Marcos Clemente Cesar Filho e muitos outros que serão lembrados pelos leitores nos comentários.

Esvaziamento do Centro

Com a construção do terminal João Goulart e a inauguração do Plaza, os ônibus passaram a sair e a chegar naqueles dois novos pontos do Centro, acabando com a parada que havia nos dois primeiros quarteirões da Rua da Conceição.

Foi aí que começou o esvaziamento da rua tradicional. Fecharam três pontos de encontro de quem ia para a Zona Sul: a Leiteria Brasil; do outro lado A Sportiva, que tinha na frente um balcão  de vidro aquecido com os melhores salgadinhos; e ao lado a Farmácia Ponciano. Esta era procurada também por quem precisava tomar injeção. A equipe de seu Acácio, um português simpático, dono da farmácia, tinha a fama de aplicar a agulhada sem que o cliente sentisse fisgada alguma.

O boom imobiliário de Icaraí provocou ainda mais o esvaziamento da Rua da Conceição. Mudaram-se para a Zona Sul profissionais liberais, empresas e lojas, como a Construtora Pinto de Almeida e a Grand Joias.

Niterói tinha esperança de ver acontecer a tão falada revitalização do Centro. Só que, que pelo andar da carruagem, esse projeto já foi para as calendas gregas.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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