Niterói virou cidade dos flanelinhas, da bandidagem, da vadiagem. Quando você para o carro num sinal de trânsito – Miguel de Frias com Praia de Icaraí, por exemplo – e um bando te enche de panfletos é invasão de privacidade. Tem também o sujeito, “tadinho”, que afronta com um pedaço de pau em chamas e que se diz malabarista, “tadinho”.
Por que a associação de moradores de Icaraí (existe?) deixa a Prefeitura não fazer o que quer, em vez de cobrar solução?
O homem bêbado, coitado, vem cambaleando, coitado, para e te molesta. “Eu preciso de 10 reais para comprar uma passagem de volta para a minha terra”. Podemos chamar essa invasão de “coitadismo”? Podemos sim. Ninguém vai chegar para o bêbado, coitado, e dizer, coitado, que não fomos nós que o arrastamos à força para cá. Ou, em casos extremos, fazer o que um célebre niteroiense já falecido fez em 1998, quando pegou um “coitadista” desses (que encheu sua paciência), pôs no carro, foi até a rodoviária e comprou uma passagem para a terra dele. O coitado não quis embarcar de jeito nenhum de volta para a tal “minha terra”. Teve um ataque na rodoviária, bateu no niteroiense que comprou a passagem e acabou preso. Era um bandido procurado no Rio.
Aí, caro leitor, você chega do trabalho num daqueles dias de 12 horas de trabalho e senta num bar, com cadeiras na calçada. Pede uma latinha de qualquer coisa e em menos de três minutos surge um vitimologista profissional, batizado oficialmente de “excluído” e pede a latinha. Sim, ele vende latinhas de alumínio para faturar algum mas você, ainda calmo, explica que a sua lata e o saco estão cheios. Não adianta. Vem outro, outro, outro, outro, outro e você se vê numa encruzilhada. Ou dá a lata cheia e vai embora ou explode. Isso é invasão de quê?
Em São Francisco, entrar numa padaria da avenida Rui Barbosa virou odisseia. Agressivos, os achacadores abordam as pessoas exigindo dinheiro, uma espécie de pedágio que eles decidiram cobrar, já que a prefeitura abandonou, também, aquele bairro a própria falta de sorte.
Numa farmácia que fica a uma quadra de distância, a calçada foi tomada por “comerciantes de artesanatos” que molestam todo mundo. Mas a broadway da falta de respeito, molecagem e tudo mais é a marquise da agência da Caixa Econômica, também na Rui Barbosa. Braços politiqueiros de todos os governos, as agências da CEF na cidade servem de dormitório de vadios, mas a de São Francisco é pior. Durante todo o dia, os “moradores” abordam quem entra na agência exigindo dinheiro, com a complacência dos seguranças já que todo mundo sabe que é “política” da CEF não molestar vagabundos. Tanto os que moram em suas agências como os que habitam os postos de comando da instituição.
Aliás, mudando um pouco o tema (ou não) para que serve a CEF? Para que manter a CEF e o Banco do Brasil juntos? A CEF custa milhões ao Estado e a sua eficácia é lamentável. A forma como ela trata os mutuários, por exemplo, é de dar nojo. Prepotência, arrogância, terror. Dizem que houve um tempo em que a Caixa era uma mãe, mas hoje ai daquele que for forçado a financiar um imóvel através dos enigmáticos meandros da CEF que, não à toa, controla todas as loterias federais, incluindo mega sena e, lógico, o Bolsa Família. Para conhecer parte do tamanho desse feudo bilionário, tome um antiemético e clique aqui.
A invasão de privacidade em Niterói chegou a um ponto insuportável. Voltando a São Francisco, o que mais se ouve falar é de bandido invadindo casas, bandido assaltando no meio da rua, ruas desertas (medo) a partir das oito da noite. Por que? Primeiro porque a Prefeitura quer que se dane, aproveitando o fato de, inexplicavelmente, os movimentos de moradores que defendem o bairro terem esmorecido. Aqui mesmo, meses atrás, elogiei esse movimento no bairro, que era corajoso, apaixonado, aguerrido. São Francisco está em decadência, os habitantes gritam nas redes sociais e esses movimentos de defesa parecem ter enfiado a viola no saco, para a alegria dos meliantes, da Prefeitura e afins. Afins como a especulação mobiliária que espera, com a boca cheia d’água, aumentarem os gabaritos dos prédios no miolo do bairro.
E a invasão de privacidade na cidade cavalga, livre, leve e solta.
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