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Coluna do LAM

Falta luz e respeito em Niterói, ou, ser honesto no Brasil é vilania

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Essa semana voltou a ter pisca pisca de luz em Icaraí, uma perversa tradição de primavera/verão, quando as pessoas cometem o “absurdo” de ligar ar condicionado, apesar de pagar os tubos por isso. A rede não suporta. Rede não, a sucata de rede.

As privatizações deram certo em alguns setores (telefonia, por exemplo) mas no que se refere ao fornecimento de luz aqui na cidade foi um fiasco. A multinacional Enel pertence ao poderoso grupo italiano Enel SpA e parece que só faz o que bem entende, parece investir pouco ou nada. Não vou discutir nem comparar com os tempos em que a distribuidora de energia era estatal e vivia financiando política. Como, aliás, todas a estatais.

Criadas a partir do final dos anos 1990, as chamadas agências reguladoras foram uma boa ideia e no início serviram ao país. Hoje são 11, que desde Lula I estão entregues ao saco de gatos da política eleitoreira, viraram brinde de partidos políticos amigos do PT durante 12 anos. Foi assim em Lula I, piorou em Lula II, começou a falir em Dilma I, caiu na lama em Dilma II e com a posse de seu vice, Temer, definitivamente foi para o brejo. Viraram cabides de emprego, escravas de quem deveria fiscalizar.

A Enel, que já foi Ampla, é uma dessas empresas que, definitivamente, funcionam mal e como a culpa não é só de quem faz mas também de quem permite fazer, ela está no seu papel de empresa em busca de lucros. Enel não é uma instituição de caridade. É parte de um sistema que começa em Brasília que, por exemplo, inventou as tais bandeiras de consumo. É quando as raposas que comandam os galinheiros decidem quanto vão cobrar porque tem custos extras, coitadinhas, já que o nível dos reservatórios está baixo, tem que ligar termoelétricas, bla bla bla… Estamos há mais de três meses na bandeira vermelha, a mais cara. O retorno? Você está vendo algum retorno, alguma melhora no fornecimento de luz, apesar de cada vez mais cara?

Os bairros mais sacrificados na Zona Sul são Charitas e São Francisco, na Zona Norte Fonseca e Barreto, além do Centro da cidade. A Região Oceânica é uma tragédia a parte que merece um artigo especial. Sem investimento aparente da distribuidora o consumo aumenta em velocidade astronômica porque comunidades como o complexo do Preventório, favela que muito em breve tomará toda a região montanhosa daquela área, incluindo São Francisco e Charitas, não paga luz. Empresas alegam que os bandidos não deixam subir para aferir e cobrar a luz, oficializando, assim, o “gato”. Um gato que é pago por nós.

Fica bom para a Enel, bom para os bandidos, bom para as agências, bom para os moradores, mas explode nas mãos de quem paga, justamente, os vivem em São Francisco, Charitas, Icaraí, quer saber?, da cidade toda, obrigada a ver o fornecimento sacrificado  porque os “gatos” em profusão acabam gerando uma sobrecarga. A demanda aumenta, mas os investimentos ficam na mesma.

Seria o caso da Aneel (agência de energia elétrica) entrar na história, apurar o que está acontecendo e determinar melhorias. Mas como as agências viraram cabide de emprego para apadrinhados políticos, fica tudo desmoralizado. O governo nada faz, a empresa nada faz, os “gatos” continuam avançando, os bandidos continuam proibindo cobrança e, sobra para quem? Para quem paga as contas em dia. Ser honesto no Brasil é vilania.

Esse papo de privatizar para melhorar é rasteiro. Uma privatização de bilhões e bilhões afaga muitos barnabés do poder que tiram lá os seus milhõezinhos de “cascalho”. O setor elétrico, como o de petróleo, é de segurança nacional. Tanto que o fornecimento de luz em Roraima, por exemplo, é feito pela Venezuela que vive sob ditadura e deve uma grana ao Brasil (benesses do passado) e ainda por cima corta a luz.  Venal conhece venal. Maduro percebeu que isso aqui está sem comando, largado, jogado aos ratos.

Em vez de privatizar, o governo deveria investir fundo, acabar com essa palhaçada de agências de maquiagem, montar uma séria estrutura de fiscalização (só com funcionários concursados) por exemplo, no Ministério de Minas e Energia e obrigar que as empresas sigam MESMO uma planilha. Pegar pesado, exigir, auditar, fiscalizar, multar, cassar. Quem vacilasse teria que largar o osso.

A qualidade (????) do fornecimento de luz da Enel é um exemplo dessa piada chamada de “agências reguladoras”. No Estado do Rio a empresa ítalo brasileira tem sete milhões de clientes diretos e indiretos em 66 cidades que não podem fazer nada. Seus representantes no Congresso, na Alerj, nas Câmaras de Vereadores poderiam fazer, mas, eles tem coisas mais importantes para tratar.

E como empresa distribuidora de luz não é irmandade do padre Zezinho, quem comanda é a escuridão.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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