Um de seus discípulos, o advogado Geraldo Bezerra de Menezes, relembrou à beira do túmulo a vida do mestre e expressou sua gratidão pelos ensinamentos recebidos de Tokio, que também orientava seus alunos a manter alimentação saudável e balanceada.
Em 1986, Geraldo Bezerra de Menezes, então repórter do Jornal do Brasil, publicou o seguinte perfil de seu mestre, pioneiro do caratê no Brasil:
“Quem passa por aquele senhor calmo, de andar ainda ereto aos 62 anos, ou esbarra com ele nas proximidades de sua residência, em Icaraí (Niterói), talvez nem imagine que está diante de um mestre em artes marciais – 6º dan de caratê e judô – e, mais ainda, que ali está um ex-kamikaze, um piloto suicida japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Assim é Tokio Mao, que superou as marcas nele deixadas, no corpo e no espírito, pela guerra, para viver na plenitude do bem, fazendo de sua arte uma religião.
“Tokio nasceu em Tokushima, na ilha de Shikokim, a sudoeste de Tóquio, e chegou ao Brasil em 1955, com dois diplomas universitários – engenharia química e filosofia – e um contrato de cinco anos com uma empresa nipo-americana. Gostou tanto que acabou ficando. Assessor técnico da Federação de Caratê do Estado do Rio de Janeiro, desde que fixou residência no Brasil dá aulas de caratê e judô. Mas só em 1965 montou a própria academia para ensinar tudo aquilo que aprendera de judô, desde os três anos, e de caratê, desde os seis. Graduou-se com a faixa preta (1º dan) aos 15 anos. Para ele, o caratê não é esporte violento.
“– Serão realmente lutadores de caratê esses indivíduos que têm cometido atrocidades por aí? Se são, onde treinaram? Quem foram seus professores? Com meus alunos isso nunca acontece porque o caratê é, antes de tudo, uma arte de defesa.
“A Segunda Guerra Mundial deixou-lhe marcas profundas. No corpo e no espírito. Em 1939, ingressou na Academia Marítima Imperial de Hiroxima, onde se graduou em 1943 como piloto de aviação de caça. Como tenente, foi destacado para as Filipinas, no sul do Pacífico, onde as tropas japonesas não conseguiam conter a ofensiva americana. Foi quando surgiu o primeiro grupo kamikase: eram 35 voluntários, sob as ordens do comandante do 1º Batalhão das Filipinas, Onishi Takijiro.
“– O primeiro ataque kamikase à frota americana – lembra Tokio Mao – aconteceu em 25 de outubro de 1944. Cinco aviões, sob o comando do capitão Seki. Um mês depois, em 25 de novembro, eu comandei uma missão de ataque aos porta-aviões Interprid e Essex, da frota americana no mar das Filipinas. Mas quando estava a 700 metros do meu alvo, que era o Essex, fui atingido. Passei quatro dias e quatro noites no mar, até que o submarino I-158 me recolheu.
“Com vários ferimentos, Tokio Mao foi levado para um hospital militar em Takao, na ilha de Formosa, e após alguns meses estava restabelecido. Voltou, então, para a frente de combate. Agora não mais como kamikaze, mas como piloto de caça e instrutor de kamikazes, até o fim da guerra.
“– Derrubei 19 aviões americanos – gaba-se Tokio Mao, que ainda hoje acredita que o destino da guerra no Pacífico teria sido outro se o comandante do 2º Batalhão, de Formosa, Teraushi, tivesse liberado 300 aviões sob sua guarda para reforçar as tropas das Filipinas.
“– Se Teraushi aceitasse o movimento kamikaze, a guerra nas Filipinas teria acabado 10 meses antes do desastre atômico de Hiroxima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto). Teraushi nunca aceitou o movimento kamikaze por não considerá-lo uma luta comum.
“A guerra chegou ao fim com um saldo de 2 mil 500 kamikazes mortos. E, ao lembrar-se disso, Tokio Mao faz um comentário que é pouco mais do que um murmúrio:
“– Eu também queria ter morrido.
“Mas, da morte que não houve, Tokio Mao muda o rumo da conversa e passa a falar de sua academia, de seus alunos, dos conceitos filosóficos das artes marciais, que ele procura passar a cada um.
“– É fundamental – diz – viver o hoje na plenitude do bem, em preparação para o amanhã. A questão não é morrer amanhã tranquilo, mas viver hoje tranquilo. O mais vem em decorrência natural. As artes marciais, como a religião, fazem parte de uma filosofia de vida, e não de luta. Lutador só luta. É diferente. Só pensa em derrubar o outro. Mas o importante é viver. Lutar por lutar é coisa de bicho.”
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