Depois de muitos anos pesquisando, entrevistando as pessoas, captando imagens e áudios raros, mergulhada na fascinante história de uma das mais importantes emissoras brasileiras, a incansável e renomada Tetê Mattos faz os últimos ajustes e “A Maldita” vai estar na telona do Festival do Rio, categoria Retratos Musicais, neste dezembro.
O filme dinâmico, ágil, divertido, mostra como essa vitoriosa rádio corajosa, irônica, antenada, caótica, nascida na ditadura militar (foi ao ar em 1 de março de 1982), transformou-se em uma turbina de liberdade, garra, “faça você mesmo”, o que mais tarde foi identificado como “teste da abertura política”.
De fato, sem a abertura política, a Maldita jamais entraria no ar; o governo que concede os canais de rádio e TV controla o conteúdo com mão de ferro quando os seus interesses são contrariados e contrariar interesses do poder foi o que a Maldita mais vez.
Até hoje é assim. As concessões são mercadorias políticas (muitas pertencem a parlamentares), toma lá, da cá, e transformou-se numa abastada fonte de renda. Apesar da “mão de ferro” do Estado, elas são alugadas ao bel prazer. No Rio, o aluguel de um canal de FM pode passar de 400 mil reais por mês sem que o proprietário gaste um tostão sequer com pessoal, impostos, energia elétrica. A conta é toda do inquilino, na maioria dos casos grupos religiosos. É dinheiro puro, no bolso.
Maldita no ar foi um sinal de que a redemocratização era para valer, como de fato foi. Se dela brotaram Sarney, Collor e tudo mais, é outro assunto, uma fatalidade.
Sabiamente, sem saudosismo, Tetê Mattos focou o filme num fenômeno, uma rádio com uma proposta completamente nova, com locução exclusivamente de mulheres, tocando músicas que nenhuma outra tinha coragem de tocar (rock, principalmente), situada em estúdios humildes em um prédio em frente a Rodoviária de Niterói.
Tetê ficou anos nos entrevistando; fundadores, produtores, locutoras da rádio, artistas, ouvintes, jornalistas. Conseguiu imagens raras da cidade de Niterói naquele início dos anos 1980, outras da campanha Diretas Já, além das festas memoráveis, shows, takes raros no estúdio, o “Vesúvio” em que se transformou o Circo Voador, numa atmosfera de pura energia positiva, quântica. Os ecos estão aí, até hoje.
Produzido pelo Canal Brasil, o documentário é um mergulho nos anos 1980, considerada a década perdida pelos economistas. A inflação galopante, aliada a uma brutal recessão (fenômeno conhecido como “estagflação”), em 1983-85 superou o patamar de 200% ao ano. Felizmente as novas gerações não tem ideia de como era viver em um país atirado no forno da inflação e no lodo da recessão profunda. O filme “A Maldita” é um testemunho (ou seria testamento?) de uma época em que os bons ventos da liberdade sopraram no país e as pessoas começaram a acreditar, mesmo, que chegava, enfim, a hora de ser feliz. Ou seja, peça fundamental para entendermos a década de 80.
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UERJ, a brilhante Tetê Mattos é professora assistente da Universidade Federal Fluminense.
Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Cinema e Produção Cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: curta-metragem, cinema – festivais, cinema documentário, cinema – exibição e cinema. Dirigiu os documentários “Era Araribóia um Astronauta?”, de 1998, e “Fantasias de Papel”, de 2015.
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