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Coluna do LAM

Divagações sobre Icaraí, São Francisco, Pé Pequeno…

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Prólogo.
Neste setembro de 2020 este site do amigo Gilson Monteiro faz cinco anos de idade. Com muita honra, convidado por ele, publico esses artigos aos sábados desde a primeira edição.
Impressionante a qualidade e quantidade dos leitores (a resposta é altamente compensadora), não só de Niterói como de São Gonçalo, Itaboraí, Rio Bonito, Maricá, regiões serrana, dos lagos, sul fluminense, norte, além do Brasil todo e também do exterior. Em geral niteroienses que vivem fora e matam a saudade da cidade acompanhando os posts do Gilson todos os dias, o dia todo.
Posts que muitas vezes ultrapassam as centenas de milhares de acessos e que tornam este “Niterói de verdade” o site mais lido da chamada Grande Niterói e que está entre os cinco mais acessados no estado, incluindo o Rio, capital.
Um forte abraço para o Gilson, que conheço há muitas décadas, pela qualidade e pontualidade. Todos os dias, sem falta há cinco anos (!!!) ele posta, as vezes quatro vezes em 24 horas, mantendo o noticiário atualizado, cheio de notícias exclusivas, o que aumenta ainda mais a onda de leitores.
Sites são como lareiras, você tem que colocar lenha o dia todo, senão apagam. Este é alimentado pela disposição, determinação e amor pelo jornalismo  do Gilson, certamente uma das pessoas mais conhecidas e prestigiadas de Niterói.

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Passando pela Miguel de Frias, imediações do Ponto Jovem, a brisa vinda do mar tentava aplacar o calor deste inverno quente, seco, árido. Na cabeça, um verso de “Sobradinho”, por Sá e Guarabyra: “O sertão vai virar mar, dá no coração/ O medo que algum dia o mar também vire sertão.”

Lembrei do “Vento da Álvares”, que já ganhou um artigo aqui e que me foi revelado pelo muito saudoso psicanalista Odyr D’Avila Uzeda. Odyr sentia muita saudade do vento que vinha da entrada da barra e transformava a esquina da Álvares de Azevedo com Praia de Icaraí em ar condicionado natural. “O nosso vento não resistiu, tombou diante da concretagem insana que quase destruiu Icaraí”.

Odyr mudou de Icaraí para Itacoatiara no final dos anos 1970 (chamava o bairro de santuário), mas com seu consultório na Miguel de Frias jamais deixou de amar, vigiar, fiscalizar. “Só o bairrismo salva”, dizia.

O saudosíssimo amigo com quem conversava sempre, Doutor Edgard Lopes Porto (apesar de amigo, nunca consegui chama-lo de você, nem pelo nome sem o Doutor na frente), foi um dos mais apaixonados niteroienses que conheci.

Intelectual, dono de uma sabedoria médica sublime (reconhecido como um dos grandes nomes da psiquiatria brasileira), inigualável generosidade, gostava muito de conversar sobre a cidade. Insisti, insisti muito para ele transformar tudo o que dizia em livro, quem sabe de crônicas, quem sabe de reflexões filosóficas, quem sabe até de poesia ou contos, mas ele apenas sorria.

Merecia um canto com o seu nome aqui na cidade. Um canto pequeno, com muito verde, uns bancos, orquídeas, bromélias, nada mais. Simples como ele.

Certa vez comíamos uma pizza na Gruta de Capri, dia de semana chuvoso, sete e meia da noite, conversando sobre os bairros de Niterói. Bairros que ele conhecia em detalhes, desde os casarões de Vila Pereira Carneiro até os sambaquis e dunas de Itaipu.

Jamais escondeu a sua predileção por São Francisco onde vivia e aprendeu “sem saber que estava aprendendo” o que chamava de “arte da contemplação”. Eles e os amigos, todos adolescentes, deitavam na areia da Praia e ficavam conversando olhando o céu estrelado; ou então não falavam nada diante daquele espetáculo que parecia refletir no mar.

São Francisco era um grande areal, bois e cavalos andando pelas ruas, brejos onde se caçava rãs, foi nesse ambiente que Doutor Edgard percebeu seu profundo vínculo com a natureza. Estudou informalmente Carl von Martius, médico, botânico, antropólogo do século 19 e um dos mais importantes pesquisadores alemães que estudaram o Brasil, especialmente a região da Amazônia.

Chegou ao Brasil em 1817 fazendo parte da comitiva da então arquiduquesa austríaca Leopoldina, que viajava para o Brasil para casar-se com Dom Pedro I. Quem vai para Teresópolis pode visitar o Museu Von Martius, que fica na serra.

Doutor Edgard gostava de devorar os mais importantes clássicos da literatura sentado à sombra de árvores perto do Lido, sob o manto do silêncio, que volta e meia era quebrado pelo canto de um coleirinho, um sabiá, a passagem de um bonde ao longe.

O bairro mantém essa vocação. Quem anda pelas ruas internas, o chamado miolo, percebe um estilo de vida típico, principalmente em se tratando de famílias nativas, que chegaram em São Francisco no final dos anos 1950, início dos 60.

Os nativos e seus descendentes são apaixonados como o Doutor Edgard, defendem o bairro de forma aguerrida e apaixonada. Políticos candidatos a quaisquer cargos tem que suar sangue para arrancar votos por lá.

A página “Movimento S.O.S. São Francisco”, no Facebook, tem quase 10 mil membros e tornou-se referência para quem quer saber do que acontece no bairro. É só acessar https://www.facebook.com/groups/265078263521585/

Conversar sobre Niterói com um niteroiense tão ou mais bairrista do que nós é um bálsamo. Curioso, Doutor Edgard conseguiu descobrir, ainda garoto, porque o nome de Pé Pequeno, daquele refúgio sossegado encravado no Largo do Marrão.

“Eu moraria lá fácil”, dizia, porque por alguma razão o bairro foi poupado da ferocidade imobiliária. Podemos dizer que é uma espécie de mini Bairro Peixoto, parecido, encravado em Copacabana. Por que Pé Pequeno? Quando a antiga Fazenda Santa Rosa (século 18) que dominava a vasta região começou a ser desmembrada entre os seus herdeiros, a maior área ficou em poder de Antônio José Pereira de Santa Rosa Jr, que, por causa do tamanho descomunal dos pés (falam que calçava tamanho 50), ganhou o apelido, que acabou se estendendo ao bairro que ele criou.

Várzea das Moças, metade em Niterói metade em São Gonçalo, ganhou esse nome por causa da fazenda existente no lugar, cujo proprietário era pai de seis moças.

De bairro em bairro nossa conversa engoliu duas horas e, voltando a pé para casa, fiquei com essas histórias reverberando. Como é bom ouvir.

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Em tese neste domingo deve rolar a campanha de adoção “Adotar é o Bicho!”, realizada sempre no segundo e último domingo de cada mês, entre 10 e 14 horas no Campo de São Bento.

Com a pandemia a campanha estava suspensa, como informou um guarda municipal, dia 30, a várias pessoas que perambulavam pelo Campo em busca de informações.

É um trabalho sério, dedicado e apaixonado de voluntários responsáveis pela adoção de cães e gatos na cidade e que divulgam o trabalho no site https://www.adotareobicho.com.br/ , que, na boa, precisa ser atualizado.

Como a demanda de cães e gatos (chamados de pets) está muito alta por causa da pandemia, é grande o número de adoções em sites e redes sociais e também a venda de animais por canis, gatis e particulares.

Seguindo a tendência mundial, há uma explosão de petshops e clínicas veterinárias em Niterói. Ótimo porque gera empregos, qualifica o trabalho e regula os preços naturalmente. Preços, por sinal, completamente loucos. Esta semana uma leitora procurava ração canina Golden Fórmula para filhotes, pacote de um quilo, e o preço oscilava de R$ 15,00 a R$ 37,00.

O negócio é pesquisar.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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