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Coluna do LAM

Discos voadores sobre a praia de Itaipu

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Não acredito em discos voadores por uma série de fatores que alteram o produto. Acredito em bêbados, testemunhas oculares do que existe de mais bizarro na história da civilização. Bêbado vê criança com pé de porco, vaca voadora, asfalto no Engenho do Mato. Isso sem falar dos usuários de LSD, capazes de ver a transformação do carnê do IPTU em documento de caridade.

Se existe vida em outras constelações não precisariam utilizar latas velhas voadoras, com pisca-pisca de árvore de Natal, para chegarem aqui. É mais prático invadir pelo DNA, pela telepatia, enfim, recursos de civilizações muito superiores.

Sempre fui muito cobrado pelo meu suposto radicalismo. Principalmente depois de um dia de julho de 1984 quando estávamos Steve Hackett (ex-guitarrista do Genesis), Hilário Alencar, Carlos Lacombe e Selma Boiron, amigos da Rádio Fluminense FM, passando a tarde na praia de Itaipú, em Niterói. Steve tinha dado uma longa entrevista ao vivo na rádio e, empolgado, seguiu com a gente.

Dia de inverno, lindo, céu azul profundo. Todos nós bebendo Coca Cola enquanto Steve misturava café com camarão frito num bar fincado na areia da praia.

A noite foi se aproximando e, por volta de umas oito horas deixamos a praia para pegar os carros, estacionados junto ao Museu de Arqueologia. E foi nessa hora, quando entrávamos nos carros, sob um céu estreladíssimo, brisa deliciosa e fria do mar, que vimos as gigantescas bolas de luzes vermelhas (do tamanho de ônibus), centenas, saindo rapidamente do mar rumo ao infinito.

O pacato, sereno Steve descacetou. Boquiaberto apontava e gritava “fly saucers! fly saucers!” (discos voadores) e eu assistia aquilo sem compreender, mesmo porque estava fazendo xixi atrás de um muro e fazer xixi exige uma certa concentração. Mas, vi sim. Vi tudo e não entendi nada.

Lembro que falei para o pessoal da rádio que deveríamos ficar quietos porque a Fluminense era rádio de rock e rock era (é, e será) “coisa de doidão”, apesar de só bebermos Coca Cola, água, enfim, não éramos junkies. Se fôssemos junkies não haveria rádio.

Mas, e o Steve? Só falava naquilo. Paramos na Praia de São Francisco – onde meu irmão Fernando César se  juntou a nós – para comer uma pizza na extinta e saudosa Cantina Romana e ele falava dos “fly saucers” o tempo todo.

Já no fim da noite um carro da rádio foi levá-lo de volta ao Rio, onde ele não só espalhou para todo mundo como, dizem, compôs uma música em homenagem aquela “visão”. Nosso pacto na rádio foi mantido.

Nenhum de nós falou nada com ninguém, nem no dia seguinte quando o jornal O Fluminense publicou uma matéria onde moradores de uma praia vizinha a Itaipu (Camboinhas) diziam que viram “bolas vermelhas saindo do mar em direção ao céu, sem qualquer ruído”. Aliás, dizem até hoje que é comum a presença de Ovnis naquela região.

Mas, para mim disco voador é como patrocínio. Já vi, mas não acredito. Uma vez um amigo se envolveu com uma dama que conheceu na barca Rio-Niterói. Princípio de incêndio amoroso. Ela queria ir a um morro na região de Pendotiba fotografar Ovnis. Muita gente dizia que lá havia mais discos voadores do que chato em cavalo. Boa pra cacete, perguntou se ele poderia acompanhá-la. Claro que sim.

Ela levou duas câmeras Nikon, pegaram o Uno dele e seguiram para o tal ponto de “avistamento”, aos beijos e abraços. Ela entendia tudo do assunto. Formas, cores, tamanhos. Ele entendia de blefe, fraude, banho, cascata em torno desse lamentável tema.

Recebida pelos outros ufólogos como iguaria de outro mundo, a dama parou o céu com seus olhos, seios, ancas, bunda. Meu amigo não queria saber de discos voadores e sim dela, da boca dela, dos seios dela, da bunda dela. E disse abertamente que respeitava sua fé mas que para mim “provar não basta, disco voador tem que me abduzir. De preferência me trazendo de volta depois.”

Ela insinuou que ele é corajoso. Ele respondeu que desafiava os discos voadores para o levarem daqui porque simplesmente não acreditava em tecnologia tão primitiva, imbecil, atrasada. Ela ficou olhando…, ele pensou “perdi a mulher”. Não perdeu.

Foram para perto de um abismo deserto, longe de tudo e ficaram ali umas cinco horas procurando discos voadores e novas posições, fazendo amor enlouquecidamente sob os olhos atentos de um bandido que, lá pelas tantas, deu três tiros pra cima.

Não viram disco nenhum, perderam o carro, as câmeras, carteiras, dinheiro, cartões de créditos, roupas e de, calcinha e cueca, desceram aos trancos e barrancos o morro e só chegaram ao asfalto as 10 da manhã, enrolados numa edição do Globo.

Mesmo assim, dizem que o tal avistamento valeu muito à pena.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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