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Coluna do LAM

Com poucas árvores, Icaraí esquenta e a população sofre

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Bairro mais populoso de Niterói, Icaraí está cada vez mais devastado. Muitas ruas e avenidas que no passado eram cobertas pela sombra das árvores, hoje estão praticamente peladas.

Em novembro passado, o corte de dezenas de árvores nas ruas do bairro só foi suspenso com a gritaria dos moradores nas redes sociais. Acusada pela prefeitura de ter cometido o crime a Enel, na época, negou e disse que as podas realizadas seguiram as regras da legislação municipal. Em nota, a concessionária reiterou a que a responsabilidade pela poda de árvores na cidade é da prefeitura.

Ao longo dos anos o plantio de árvores não foi suficiente e a visível “desertificação” do bairro eleva constantemente a temperatura. Moradores antigos garantem que Icaraí está muito mais quente do que há 40 anos.

No entanto, os tecnocratas da prefeitura veem como “normal” a situação demonstrando sensibilidade zero ou até um certo desprezo num momento em que toda a humanidade assiste provas de que o plantio de árvores ameniza a temperatura, filtra a poluição do ar, ajuda a combater o aquecimento global.

Nacionalmente, Copacabana é um bairro modelo no quesito “o quer não se deve fazer”. A partir dos anos 1950, os governantes deixaram que os espigões colados um no outros asfixiassem o bairro, jogando a qualidade de vida no chão. O escândalo foi tamanho que o “inchaço” de Copacabana não se repetiu no Rio.

Mas, em Niterói, a partir dos anos 1970, desgraças a inclemente especulação imobiliária associada à vista grossa do poder público, Icaraí se “copacabanizou”. Casas, chácaras, grandes áreas de verde deram lugar a prédios gigantescos construídos um colado no outro tornando-se uma monumental muralha por onde o vento do mar, que não consegue passar.

Há pelo menos duas muralhas gigantes: a própria Praia de Icaraí e a rua Moreira César são exemplos do que existe de pior em matéria de ocupação urbana. Tanto que se tornou lendária a manchete de uma reportagem do saudoso J.A. Xavier em um semanário local, nos anos 70, que dizia “Só a terceira guerra mundial pode salvar Icaraí”.

Apesar de especial, querido, cultuado, Icaraí sofre. Como sofre. As calçadas estreitas em muitas ruas são ocupadas por puxadinhos de estabelecimentos que privatizam o bem público. Supermercados ocupam a calçada para guardar carrinhos, bares e restaurantes colocam mesas e cadeiras. Claro, vendedores ambulantes vivem no bairro, onde a manutenção de calçadas (pela lei é responsabilidade dos donos dos imóveis) é péssima.

O trânsito no bairro – a palavra da moda é mobilidade – chega a ser perverso e os moradores que resolvem aderir a bicicleta, meio de transporte mundialmente consagrado, tem que correr risco de vida. Criado pelo secretário de planejamento, modernização da gestão e controle e pré-candidato a prefeito, Axel Grael, o programa “Niterói de Bicicleta” chamou a população para aderir prometendo a construção de uma grande malha de ciclovias e ciclofaixas. A população aceitou, milhares de bicicletas foram para as ruas, mas a prefeitura não fez a sua parte.

De acordo com O Fluminense de março do ano passado, o coletivo Pedal Sonoro entregou uma carta Compromisso pela Mobilidade Ativa ao Prefeito Rodrigo Neves, em sua campanha de reeleição, com 10 propostas. Luís Araújo afirma que os compromissos assumidos pela gestão não foram implementados.

Segundo o Censo de 2010, Icaraí tem uma população de 75 715 habitantes, o bairro mais populoso de Niterói. É o bairro da cidade com o maior número de idosos, 15.192, ou, 19,3% da população.

Por isso, a partir de julho com a abertura da temporada de caça aos eleitores, as ruas de Icaraí vão mostrar mais uma vez um exército de pessoas com bandeiras e distribuindo panfletos e promessas de propaganda de candidatos a prefeitura e a Câmara dos Vereadores.

Em no dia 4 de outubro, os habitantes do bairro vão digitar na urna eleitoral o que estão achando.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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