Desde criança quando ia ajudar o pai na roça ele só pensava em trabalhar no Magazine Oliveira, em São Fidélis, no Norte Fluminense. Admirava o ofício do dono da loja, o português Carlos Oliveira, que fazia calças e camisas para vender.
Hélio Alves conseguiu realizar o sonho quando tinha 12 anos. Hoje aos 76 anos de idade é um dos poucos alfaiates ainda em atividade em Niterói. Chegou à antiga capital do Estado do Rio aos 21 anos e aqui está há meio século com a fita métrica no pescoço e agulha e linha nas mãos.
Quando começou a aprender o ofício, seu Oliveira deu-lhe primeiro calças curtas para costurar. Eram peças interrompidas 10 cm acima do joelho que os meninos de antigamente usavam até receberem da família o passaporte para a adolescência.
Depois começou com as calças inteiras e pôde chegar aos paletós. Eram estágios demorados, porque o português era exigente e perfeccionista, seguia o rigor da escola de moda europeia.
Encontrei Hélio, esse competente, experiente, simpático e raro profissional na Amaral Peixoto 300, Edifício Del Labor, sala 311, cercado de tecidos, moldes e rolos de linha. Trabalhava na máquina de costura, o ventilador em cima de uma mesinha girava em sua direção. A porta da pequena sala estava aberta para diminuir o calor insuportável do verão. Ali Hélio atende sua clientela masculina há 40 anos.
Com a voz mansa e baixa, característica do interior, diz que escolheu a profissão por vocação e amor e que pretende exercê-la enquanto tiver força. Conta que chegou a Niterói com 21 anos. Veio servir, já fora do prazo, no 3° Regimento de Infantaria que ficava na Venda da Cruz. No quartel consertou a roupa da tropa por um ano. Ao dar baixa do Exército não voltou à terra natal, pois logo arrumou emprego de alfaiate na Casa José Silva, na Rua da Conceição. Cinco anos depois foi trabalhar na FB Calças e, mais tarde, na Ponto das Calças, até abrir seu próprio ateliê, onde permanece no batente.
Já enfrentou várias crises, mas a Covid-19 com a novidade do home office mudou o hábito de sua clientela, na grande maioria advogados, que passou a mandar fazer somente calças e camisas sociais em vez dos ternos completos e dos blazers.
Hélio diz que o tecido continua com a mesma qualidade, mais a facilidade de ligar para o representante do fabricante em São Paulo, escolher o tipo, a cor e a metragem e receber a peça no dia seguinte em Niterói.
Com o avanço da tecnologia e a revolução da indústria chinesa, poucos são aqueles que insistem em manter a tradição nos dias de hoje. É uma pena porque o alfaiate é um profissional de grande importância para o movimento da moda, principalmente para quem gosta de peças exclusivas e caimento perfeito. Antigamente, um homem bem-vestido era questão de status, requinte e elegância.
Encontrar um profissional com o know-how de Hélio Alves para fazer seu terno, calça ou camisa, é como achar uma agulha no palheiro. Essas figuras só existem na terra do cacique Arariboia. Quem quiser falar com o velho alfaiate é só ligar para: (21) 97151-5580.
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