Tempos atrás escrevi aqui sobre a passagem dos mineiros do Clube da Esquina pela praia de Piratininga. Lendo o livro sobre o disco Clube da Esquina, da coleção “Som do Vinil” – livros que transcrevem as entrevistas que o meu chapa Charles Gavin faz no Canal Brasil – soube através da fala de Milton Nascimento e Lô Borges que a tal “passagem por Piratininga” foi muito mais profunda.
Lançado em 1972, o álbum duplo “Clube da Esquina”, com Milton Nascimento (28 anos) e Lô Borges (17 anos) encabeçando, foi 90% composto numa casa que eles alugaram no final de 1970 na Prainha de Piratininga, que também era conhecida como Mar Azul. O álbum é considerado um dos melhores da história da música brasileira, aclamado por gigantes como Wayne Shorter, Pat Metheny, Björk, Peter Gabriel, Sarah Vaughan.
A Prainha de Piratininga era linda, a lagoa saudável cheia de peixes e camarões, praia deserta, com dunas, pássaros, árvores e funcionou como uma espécie de usina de criação do Clube. Para lá iam Beto Guedes, Wagner Tiso, Ronaldo Bastos, o saudoso Fernando Brant, Toninho Horta, etc. Em muitas noites ele acendiam fogueiras, sob o manto magnífico de estrelas e ficavam compondo e tocando violão até de manhã. Milton adora Niterói e sempre fala da cidade que abrigou o Clube durante a gestação desse disco magistral. Ele sempre cita a cidade quando fala de sua carreira e se mostra muito grato a Prainha, ou Mar Azul, pelo alto astral e pela brisa inspiradora.
Na época que lançou “Geraes” (1976) ele frequentou a cidade. Voltava a noite para o Rio e uma vez eu o levei até o ponto de táxi, emocionado, com o coração disparado. Não é todos os dias que encontramos uma pessoa tão genial, simples, e ainda por cima a melhor voz do mundo. Ele agradeceu, entrou no táxi e partiu.
Semana passada tentei descobrir se a casa que eles alugaram ainda existe pois queria fotografar. Pouco provável, mas assim mesmo perguntei no Facebook se alguém poderia informar. As pessoas se esforçaram, uma chegou a dizer que “acho que ficava do outro lado da ponte de madeira perto do Tibau”. Não desisti e agradeço aos leitores que, por acaso, tiverem uma informação.
Clube da Esquina surgiu da grande amizade entre Milton Nascimento e os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô), no bairro de Santa Tereza, Belo Horizonte, em 1963, depois que Milton chegou à capital para estudar e trabalhar.
Ele acabara de chegar de Três Pontas, cidade onde morava a família e onde tocava na banda W’s Boys com o pianista Wagner Tiso; com Marilton foi tocar na noite, no grupo Sambacana. Compondo e tocando com os amigos, Milton ganhou o prêmio de melhor intérprete no Festival Internacional da Canção, de 1967, com “Travessia”.
Fãs dos Beatles e The Platters novos integrantes vieram juntar-se: Flávio Venturini, Vermelho, Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Guedes e os letristas Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Murilo Antunes. O nome do grupo foi ideia de Márcio que ao ouvir a mãe perguntar dos filhos, ouvia a mesma resposta: “Estão lá na esquina, cantando e tocando violão.”
De acordo com Lô Borges nos “bastidores” do seu DVD “Intimidade” de 2008, o nome “Clube da Esquina” se deu por acaso, quando um amigo rico, passando de carro pela esquina onde ele e os amigos se reuniam, resolveu convidá-los para seguir com ele para um clube onde a rapaziada mais abastada costumava se divertir. Duros, um deles respondeu: “Nosso clube é aqui, na esquina!”; embora mais tarde Milton, Lô e Ronaldo Bastos se reencontram em Niterói, Rio de Janeiro tornando o movimento ponte cultural entre Minas e o Rio.
O LP, “Clube da Esquina”, apresentando um grupo de jovens que chamou a atenção pelas composições engajadas, a miscelânea de sons que vão da Bossa Nova ao Rock Psicodélico, passando pelo Jazz, ritmos do interior de Minas, folk rock, da música erudita-popular de Villa-Lobos, e o nascente Rock Progressivo; e nas letras, riqueza poética. Por serem os primeiros na moderna MPB a promoverem a integração musical do Brasil com o restante da América Latina, lançaram as bases da chamada World Music; pela busca de ambientações sonoras, também são considerados os precursores da música New age no Brasil.
Embora menos citado e/ou divulgado pela mídia mainstream que o Tropicalismo, para certos críticos mais sofisticados, sobretudo os ligados ao jazz, o Clube da Esquina chega a superar o movimento baiano-paulista, em sua contribuição para a renovação da sonoridade e qualidade na música popular brasileira e internacional, embora contemporâneos.
Assista a este documentário sobre o Clube, feito pela TV PUC de São Paulo. É só clicar no link: https://www.youtube.com/watch?v=SACaczm6gA4
Prefeitura de Niterói já entregou, este ano, R$ 58 milhões para OS fazer a gestão…
Renato Cotta toma posse no MAE Alumni Hall of Fame da North Carolina State University…
Desembargador César Cury defende a mediação como a melhor solução para a resolução de conflitos Só este…
Do pátio do MAC, na Boa Viagem, descortina-se um leque de opções para o visitante…
Pinheiro Junior com a beca dos imortais da Academia Fluminense de Letras, no dia de…
A Rua Presidente Pedreira, no Ingá, mais uma vez vira um rio, mesmo quando a…