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São Francisco de Claudio Valério e Dr. Edgard Porto

Escrito por Luiz Antonio Mello às 08:24 do dia 25 de maio de 2019
Sobre: No tempo do Saco
25maio

Num domingo desses eu pedalava pela orla da cidade e decidi fazer um roteiro curioso. Saí de Icaraí, fui até as barcas, Centro, e de lá até o Clube Naval. Na volta, na calçada da praia de São Francisco, fui convidado a parar por um por do sol deslumbrante, raro, excepcional.

Desci da bicicleta e fiquei contemplando a paisagem daquele saco, achando engraçado que muita gente não saiba que se trata de “pequena enseada” e não somente saco de cimento ou como descreve o Dicionário Informal da Língua Portuguesa,“Adalberto levou uma bolada na bolsa escrotal”.  São Francisco se chamava Saco de São Francisco, mas parece que, por moralismo (nunca consegui confirmar), tiraram o Saco do nome.

Minhas ligações afetivas com o bairro são múltiplas. Morei lá três vezes: infância, puberdade e adulto. Frequentava constantemente o bairro na adolescência por causa de vários primos que moravam lá e também acompanhando a manada de amigos de Icaraí que gostava de andar de bicicleta naquele areal. São Francisco era um enorme e lindo areal, cheio de brejos, rãs, cobras, mamonas, passarinhos, bois, cavalos.

Uma outra conexão: há quase 35 anos, toda a semana, vou a Reunião de Oração da Igreja Betânia, que fica no bairro, conduzidas pelos amigos Téo Elias e Josué Rodrigues e os meus vínculos afetivos só se intensificam ao longo do tempo. Até hoje não sei explicar por que não acabei morando lá. Com uns 20 e tantos anos já havia morado no Pé Pequeno (adorei!), na rua Maricá, uma das mais inclinadas da cidade. Saí de lá porque na época faltava muita água e mudei para São Francisco, mas não foi legal por causa do prédio. Tanto que fiquei só um ano e voei.

Voltando ao domingo do começo da conversa, na calçada da Praia do “Saco”, contemplando um alucinante por do sol, pensei muito em dois grandes amigos: o artista plástico e restaurador Cláudio Valério Teixeira e o médico Dr. Edgard Porto. Cláudio é um carioca de Botafogo que, há uns 40 anos, se apaixonou por Tânia Regina, nativa de São Francisco.

Eles casaram e o carioca se tornou um niteroiense aguerrido, apaixonado pela cidade em geral e por São Francisco em particular. Nunca entendi por que até hoje Câmara dos Vereadores não lhe concedeu o título de Cidadão Honorário; ele é muito mais do que isso. Cláudio fala, age, respira como niteroiense típico e além de viver em São Francisco tem lá o seu consagrado atelier de pintura e restauração.

Outro amigo, nativo do bairro, foi o saudoso Dr. Edgard Lopes Porto, médico extremamente conceituado, respeitado e querido na cidade, que faleceu em 2014. O leitor pode estranhar – “como um amigo chama o outro de doutor?”- , mas é que o conheci como médico, nos tornamos amigos e nunca o chamei sem o doutor na frente.

Nesse fim de tarde lembrei dele e de seu amor por São Francisco, onde morou a vida toda. Uma vez contou que, adolescente, costumava ir com os amigos para a praia a noite. Eles deitavam na areia e ficavam contemplando a lua e as estrelas. Ele me dizia “jamais esquecerei do silêncio, da brisa, da imensidão do céu e da paz profunda que sentia”.

Com o mesmo grupo costumava ir de prancha a remo até a Ilha dos Amores, que fica ao lado do píer dos Catamarãs, em Charitas, onde “víamos muitas espécies de peixes, além dos botos que frequentavam aquela região”, contou. “São Francisco sempre cuidou muito bem de mim”, revelou uma vez.

Apesar do crescente número de moradores de outras cidades e bairros que se mudam para lá (e também para Charitas), os habitantes antigos e seus descendentes defendem São Francisco com unhas e dentes. As páginas de moradores no Facebook registram uma grande movimentação: https://bit.ly/2R6aOQA e https://bit.ly/2EF4w2j

Cuidar da casa, calçada, rua, bairro, cidade, estado, país. Essa é a receita básica da cidadania plena que, percebe-se, sempre foi exercida com muita disposição pelos moradores de São Francisco. Afinal, como esquecer da liderança apaixonada de seu Tarquínio (o saudoso Cláudio Tarquínio) um dos fundadores do Centro Comunitário de São Francisco, entidade que está entre as mais fortes e ativas da cidade?

O “Saco” merece.

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# Impressionante a baixaria reinante em boa parte do comércio da cidade onde funcionários só faltam estapear consumidores. Os donos, coitados, acham que a queda nas vendas é culpa somente da crise. Não é. Não existe mais “bom dia, boa tarde, boa noite”, é papo no whatsapp, no Facebook, “pega a mercadoria lá, se quiser”, ou seja, chutes e pontapés na alma do comércio, o consumidor. Por isso, muita gente voando para comprar na internet. Os robôs são mais cordiais.

# Convidado por Luís Araújo, comecei a escrever uma coluna quinzenal no site do coletivo Pedal Sonoro. Clique e confira: https://bit.ly/2Qi06D0 . Aliás, todos os programas da Rádio Pedal Sonoro estão disponíveis em podcasts. Clique e ouça: https://bit.ly/2VNPg8K

#  Foram instalados e ligados novos radares na estrada RJ 106, entre Niterói e Maricá.

#  Acaba dia 31 a vacinação contra a gripe H1N1. Detalhes: https://bit.ly/2VG2Jn1

#  Confira a programação do Teatro Municipal de Niterói: https://bit.ly/2wmjYLP

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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