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O pedestre que se dane

Escrito por Luiz Antonio Mello às 08:10 do dia 14 de outubro de 2017
Sobre: Desordem pública
14out

Não é um drama exclusivo de Niterói. No Rio do bispo Crivella, na São Paulo do janota Dória e em muitas outras cidades o pedestre vive no porão da cadeia alimentar, falta de respeito e consideração do poder público.

Em Niterói, quem tenta caminhar pelo centro da cidade sente, literalmente nos calos, a desordem pública, apesar de existir uma secretaria ironicamente chamada de “Ordem Pública”. Em muitos pontos as calçadas são estreitas pinguelas onde os pedestres acrobatas tentam se equilibrar para não cair na rua e ser massacrados pelos ônibus que, também por causa da desordem urbana, voam em alta velocidade sempre colados no meio fio.

Na rua da Conceição, a vocação circense do niteroiense se manifesta num esburacado trampolim, chamado de calçada, nas imediações da rua Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro onde tem que se andar em fila indiana. Cansado, decide atravessar na faixa de pedestres que existe na esquina. Quer dizer, faixa de pedestres que está apagada, mas na base da intuição e do instinto o pedestre localiza.

Sabe aquele inteligente cronômetro que mostra quantos segundos faltam para o sinal fechar? Pois é, ali e em muitos outros sinais na cidade, ele não funciona. Por isso, já vi idosas e idosos não conseguirem atravessar a tempo parando no meio da via. Ônibus, carros, táxis, ninguém respeita, tiram finos do cidadão e ainda os xingam. A desordem pública é aliada da grosseria e do egoísmo, novos ingredientes de novos niteroienses (a cidade não era assim) que tem no coice sua principal característica.

Na avenida Amaral Peixoto, o pedestre disputa espaço com mendigos, moradores de rua, ladrões, vadios, cocô de cachorro, carrocinha disso e daquilo, comércio clandestino, pombo cagando na cabeça, é um vale tudo. Tem gente que afirma que a Amaral Peixoto já foi a Wall Street de Niterói mas hoje muito lembra as vielas dos subúrbios de Islamabad, no Paquistão. Imaginem a situação na rua Visconde de Rio Branco onde até urubu se recusa a pousar.

Em Icaraí a situação do pedestre consegue ser pior. Desgraças a desordem pública, moto boys sobem e descem das calçadas quase passando por cima de carrinhos de bebê, idosos, gente comum. Atrás deles vem as bicicletas, que também na campanha “pedestre que se dane”, se acham donas do mundo e ai daquele que não sair da frente.

As bancas de jornais foram colocadas no meio das calçadas, na maior cara de pau, inviabilizando, completamente a passagem de um cadeirante. E tome coice. Em Icaraí também cresce a população de mendigos dormindo (onde?) nas calçadas, pedintes (onde?), nas calçadas, batedores de celular (onde?), nas calçadas, cachorros fazendo coco (onde?) triciclos de entregas de supermercado em alta velocidade (onde?), botequins invadindo o espaço (onde?) e essa ladeira só tem descida.

A manutenção das calçadas é responsabilidade do cidadão, uma lei cabotina. Cidadão que, em Niterói, paga um dos IPTUs mais caros do Brasil, leva uma facada mensal na conta de luz por conta de uma taxa de iluminação pública que não é usada em iluminação pública e ainda corre risco de vida caminhando (onde?) na calçada que, segundo a lei, além de aturar os desmandos da desordem pública, obriga a enfiar a mão no bolso e bancar a manutenção.

Por falta de espaço não falei das “calçadas” do Ingá, Santa Rosa, São Francisco, Cubango, Fonseca, Barreto…

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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2 thoughts on “O pedestre que se dane

  1. É verdade, Luiz Antônio, tudo que você descreve acontece de fato, e não é de agora. Em muitos pontos da cidade, por ser de urbanismo antigo, as calçadas são mesmos estreitas, pois 70 anos atrás a demanda por espaço para pedestres era INFINITAMENTE MENOR, e não havia necessidade de espaço para automóveis (eram raríssimos). Pois bem, décadas se passaram, a população quadruplicou (não aguento mais repetir isso!), adoramos exibir nossos lindos veículos motorizados (não aguento mais repetir isso!), no entanto, as partes antigas da cidade continuam antigas, com o mesmo aspecto de antes. Não há como alargar ruas, a única solução em vários pontos é ampliar calçadas, e o único espaço disponível é o asfalto das pistas de rolamento, pois não se pode afastar os prédios para trás. Pergunta-se: queremos reduzir espaço para nossos lindíssimo, poluentes e barulhentos veículos motorizados? Queremos quebrar paradigmas e dar preferência para outros meios de trasporte, inclusive os pés humanos? Queremos replanejar e homogeneizar a cidade, de modo que adultos e jovens não precisem se deslocar de um lado para o outro, todos os dias, para trabalhar e estudar? Queremos mesmo uma cidade diferente e mais justa, ou o negócio é só reclamar dos outros, “sai da minha frente”, e que se dane tudo?

  2. Ñ existem modelos fixos, para formação familiar visto q são pessoas diferentes com histórico de vidas particulares q se unem para formar um grupo. O importante sempre seja a família q for é q haja respeito entre eles, respeitado sua individualidade própria.

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