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Morador de Icaraí volta a invadir a sua praia

Escrito por Luiz Antonio Mello às 08:10 do dia 14 de abril de 2018
Sobre: Novos hábitos
14abr

Mudança de comportamento. Desde o final de março até hoje, a Praia de Icaraí tem ficado cheia. Não de moradores de outras cidades, outros bairros, e sim de habitantes de Icaraí mesmo.

Aproveitando os índices positivos de balneabilidade muita gente está pegando cadeira, canga, barraca para curtir mergulhos e a areia de Icaraí. Para saber se a praia está OK para banho (o boletim é diário) é só clicar aqui: https://praialimpa.net/

Antigos e novos moradores do bairro tem até formado rodas de bate papo a beira mar. São frequentadoras de várias idades, inclusive as novas gerações que evitam a trabalheira de se deslocar até a Região Oceânica, enfrentando trânsito ruim e muitas vezes praias superlotadas. Além do mais, é uma opção muito mais barata.

Os banhistas se queixam da imundície dos quiosques e da falta de chuveiros para uma ducha de água doce antes de voltar para casa. Mas a vantagem de estar perto de onde moram, de poder levar isopor com frutas, sanduiches e bebidas para a praia sem serem importunados pelos “donos” dos espaços nas praias da R.O. compensa muito.

O grande temor de todos é que Icaraí vire praia da moda no próximo verão para toda a região metropolitana. “Não queremos desordem. Vamos torcer para que Icaraí continue assim, civilizada, educada, com pessoas que gostam daqui e por isso cuidam”, comenta uma defensora pública moradora da rua Moreira César. De fato, o que não falta é educação entre os banhistas. Como não existem lixeiras na areia, a maioria dos frequentadores coloca o seu lixo em sacos plásticos para depois dispensar.

Frequentar o mar e a areia de Icaraí é uma tradição antiga. Há registro de banhistas nos anos 1920. Por causa do mar relativamente manso, Icaraí formou várias gerações de nadadores e remadores, alguns deles campeões em campeonatos estaduais e nacionais. O Clube Regatas, por exemplo, foi uma fábrica de campeões.

Meu tio avô, o saudoso almirante Raul de Farias Mello, morava numa casa ao lado de onde é, hoje, a reitoria da IFF. Diariamente, antes das seis da manhã, tio Raul nadava da frente de sua casa até o Canto do Rio (na altura da Ary Parreiras) várias vezes. Meu pai morou uma temporada na casa dele e acabou gostando de nadar todos os dias no mar transparente da praia.

A Praia de Icaraí teve um trampolim histórico, concursos de miss, footing de paqueras na calçada e nos bondes, festivais de música na areia, bares cheios como o Texas e o Bier Strand e outros. Era um programa para depois da praia. Muitos casais se conheceram ali e acabaram casando.

Nos anos 1970 Icaraí foi tomada pela poluição quando foi engolida pela especulação imobiliária. Muita gente contraiu hepatite e outras doenças e, lógico, os banhistas sumiram. Nesses anos 2000, a poluição reduziu drasticamente e quando há muitos dias seguidos sem chuvas mar e areia ficam limpos. Mas quando chove o lixo e o esgoto das ruas e morros vão direto para o mar.

Mas a boa notícia é que o morador de Icaraí votou a invadir a sua praia.

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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